São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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Deputado crê em novo Esquadrão da Morte

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Hélio Bicudo (PT-SP), 73, membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, disse que o "Grupo Reação", que assumiu os assassinatos de três menores em Belo Horizonte, pode ser considerado um novo Esquadrão da Morte.
"O Ministério Público deve assumir as investigações, porque se deixar nas mãos da própria polícia os culpados não serão encontrados", afirmou.
Segundo ele, a comissão enviaria ainda ontem uma representação ao procurador-geral de Minas Gerais pedindo providências no caso.
O representante da Human Rigths Watch (entidade de defesa dos direitos humanos) no Brasil, James Cavallaro, 33, disse que o caso pode prejudicar a imagem do país no exterior.
"Convém ao governo brasileiro fazer uma investigação detalhada e punir os culpados, para dar o exemplo. Toda a situação tem de ser esclarecida", disse.
Cavallaro diz que este tipo de crime acontece porque não há punição em outros casos semelhantes. "Os policiais pensam que podem fazer o que querem impunemente", disse.
Para o padre Júlio Lancellotti, 48, da Pastoral do Menor, o assassinato causou repulsa semelhante à provocada pela morte de 16 crianças na Escócia, nesta semana.
"É uma situação irracional, absurda, que só pode causar profunda comoção", afirmou.
"Isso mostra uma polícia doente. Os responsáveis não podem ser pessoas em boas condições mentais", disse.
Lancellotti também considera que o caso vai ter grande repercussão no exterior. "É um caso que mancha mais uma vez a imagem do Brasil", disse.
Carlos Pelegrini Di Pietro, 57, da subcomissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-SP, disse que o governo mineiro deve ser enérgico na punição dos culpados e realizar atividades preventivas para evitar novas ações semelhantes. "A sociedade precisa ser protegida desse grupo", diz.
Di Pietro considera que o caso se torna ainda mais grave por se tratar de policiais civis. "Os policiais são agentes do Estado, que em tese é um produto da sociedade e se destina à sua proteção", disse.
"O caso é de uma repugnância inqualificável, de uma selvageria dificilmente vista", afirmou.

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