São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Periferia de SP financia 'polícia paralela'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A população mais pobre de São Paulo, situada na periferia da cidade, financia uma espécie de "polícia paralela" para contar com o mínimo de segurança nas suas ruas.
Cerca de 5.000 homens vivem deste tipo de serviço na Região da Grande São Paulo, segundo levantamento feito pela Folha.
Autorizada pela Secretaria de Segurança Pública, a "polícia" presta serviço de vigilância noturna em troca de uma média de R$ 10 de cada casa por mês. A taxa não é obrigatória, mas a maioria dos moradores opta pelo pagamento, já incorporado às despesas de rotina.
"Todo mundo paga e eu não quero ficar de fora, não seria bom negócio", diz Antônio C. Gonçalves, 34, eletricista, morador de Itaquera (zona leste de SP), uma das regiões mais violentas da cidade.
'Como INPS'
Para Gonçalves, a guarda paralela faz o que a polícia deveria fazer. Ele tem uma comparação: "É como o 'INPS', todo mundo paga, mas como não serve para nada, a gente tem que pagar também um plano de saúde particular".
Diferentes dos tradicionais guardas noturnos, as equipes dessa vigilância fixam a mensalidade e cadastram os moradores casa por casa, para facilitar a cobrança.
Os vigilantes, que precisam de uma autorização da Polícia Civil para o trabalho, têm uma faixa geográfica delimitada em cada bairro para atuação.
Segundo informações do Departamento de Registros Diversos da polícia, o segurança de rua precisa passar no teste de "bons antecedentes" para entrar no serviço.
Para se candidatar à "polícia paralela", é preciso também colher um abaixo-assinado de moradores com o apelo de que precisam desse tipo de segurança.
A licença dos seguranças, conferida pela delegacia mais próxima da sua área, é renovada anualmente. "Somos rigorosos, mas isso não significa que não existam problemas", diz Renato Funicello Filho, diretor do Departamento de Registro Diversos da Polícia Civil.
O principal problema é chamado de "terceirização da terceirização". Normalmente os vigilantes licenciados contratam outros para trabalhar em seus lugares ou ajudá-los no serviço.
Aí está formada uma corrente considerada "perigosa" pela polícia e que foge do controle da Secretaria de Segurança Pública. Segundo apurou a Folha, existem denúncias -não comprovadas- de pessoas que acusam os vigilantes de ligação com grupos de extermínio.

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