São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Empresas devem aproveitar os profissionais polivalentes

ENRIQUE JURADO
DO "EL PAÍS"

Uma das dificuldades para que uma empresa trace um plano de carreira é a crescente precariedade do mercado de trabalho.
Recentemente um informe do próprio Ministério da Economia assinalava o efeito negativo exercido pelo emprego precário na consolidação da recuperação.
A incerteza decorrente da instabilidade no trabalho freia o consumo. E, prejudicado o consumo, o crescimento diminui, como ocorreu nos últimos meses de 1995.
Por um lado, a formação como um dos motores do funcionamento da empresa sofre as consequências sobre o consumo e o crescimento econômico.
Por outro lado, a mobilidade funcional favorece o perfil dos "profissionais polivalentes". Isso quando ela é bem projetada e não significa uma redução pura e simples dos quadros de pessoal.
O grande problema da flexibilidade no trabalho é provavelmente o fato de ser restrita exclusivamente a aspectos relacionados à redução de custos.
O profissional polivalente, aquele que não está há 20 anos fazendo a mesma coisa todo dia, deveria contar com um plano de carreira que permitisse à empresa aproveitar ao máximo seus conhecimentos acumulados.
Surpreende o pouco interesse manifestado pelas empresas (e, porque não dizer, também pelos funcionários) em desenhar planos de carreira.
Benefícios
O primeiro benefício que tais planos implicam para a empresa é aproveitar todos os recursos dos quais ela dispõe, e orientá-los em direção a objetivos periodicamente estabelecidos.
Para o trabalhador, seguir um itinerário que inclua aquisição de conhecimentos e aprendizagem de novas técnicas e conhecimentos constitui ferramenta indispensável para "manter-se no mercado".
Esse desenho profissional não se restringe aos aspectos formativos (entendidos como cursos ou mestrados). É algo mais ambicioso, que poderia ser descrito como a capacidade de aprender a aprender.
Muitas pessoas acham que podem proteger-se, entrincheirando-se em seu posto de trabalho.
Na realidade essa atitude, bastante difundida nas empresas espanholas, tem mais a ver com obter controle dentro das organizações do que com a busca de uma promoção "saudável".
Não se deve minimizar a importância desse fenômeno, porque grande parte dos diretores, profissionais e funcionários conseguem escalar os degraus do poder dentro das organizações por meio dessa artimanha.
É evidente que existe um tipo determinado de empresa que fomenta essa prática, com desvantagens claras para ela mesma.
Mais do que funcionários eficientes, o chefe está interessado em servos dóceis, abnegados e dispostos a obedecê-lo em qualquer coisa, desde que consigam manter a confiança de seu superior.
Nesse tipo de empresa não costuma haver interesse pela formação, nem regras profissionais de promoção interna.
O risco para os profissionais é evidente: eles se descapitalizam profissionalmente e desconhecem as regras que realmente imperam no mercado exterior.
Quando a empresa é vendida a uma multinacional ou passa por uma reestruturação ou mesmo fechamento, o funcionário se vê diante de um novo mundo onde terá enorme dificuldade em encontrar um novo emprego.

Tradução Clara Allain

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