São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Tudo pelo "socialite"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Uma leitora telefona para chamar a atenção para um episódio que só mereceu destaque no "Jornal do Brasil", talvez porque a personagem seja da sociedade carioca.
Resumo: Carmen Mayrink Veiga, a personagem em questão, entrou com ação contra o Banco do Brasil, alegando que sofrera "danos morais". O BB teria convocado jornalistas para testemunharem a apreensão de bens pessoais, no apartamento de Carmen, para cobrir uma dívida (R$ 4 milhões) não-paga por seu marido ou ex-marido.
Carmen alega que o BB expôs publicamente dificuldades financeiras particulares de sua família.
É uma situação emblemática: a "socialite" revolta-se contra a exposição pública de seus problemas, mas não parece minimamente preocupada com o fato de não pagar uma dívida para com um banco público.
Pelo tom do noticiário do "JB", Carmen Mayrink Veiga tem grandes chances de ganhar a sua ação contra o banco, o que seria levar ao paroxismo a máxima do "devo, não nego, pago quando puder".
Para uma parcela dos brasileiros, o que vale é "devo, não nego, não pago e ainda processo quem quiser me cobrar".
É razoável desconfiar que o Banco do Brasil, como outros bancos públicos, faz empréstimos que pouco têm de "social", função teórica que deveriam cumprir.
São empréstimos influenciados pelo poder político e/ou social dos contratantes, que, por isso, não se sentem compelidos a pagar a dívida. Certamente confiam na impunidade que confere o poder do dinheiro ou de posições políticas.
É igualmente razoável suspeitar que o BB só agiu como agiu, no caso Mayrink Veiga, porque a família perdeu ao menos uma fatia de seu poder financeiro ou por fazer parte, mesmo em dificuldades, do circuito carioca do charme.
Ainda assim, uma decisão favorável à "socialite", nesse caso, será um estímulo para que se mantenha no país uma regra secular, a que diz que todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais do que outros.

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