São Paulo, segunda-feira, 18 de março de 1996
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Sem-terra preso diz que foi 'esquecido'

LUIZ MALAVOLTA

LUIZ MALAVOLTA; FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

Dois militantes que estão desde agosto em prisão no Pontal pedem empenho da direção do MST

Dois militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo) estão presos desde agosto do ano passado.
Eles se queixam do esquecimento do MST em relação às suas prisões.
João Rodrigues Filho (João Mineiro), 63, e Walflen Mundin, 22, foram presos e acusados de incendiar fazendas em invasões.
João Mineiro foi condenado pela juíza de Mirante do Paranapanema (640 km de São Paulo), Catarina Estimo, a quatro anos e oito meses de prisão, além de multa com valor a ser definido.
Já Mundin ainda não sabe quando será julgado. "O que lamento é que esqueceram da gente na prisão. Gostaria que o MST atuasse da mesma forma com que atuou no caso das prisões dos líderes", disse.
O diretor estadual do MST Zelitro Luz da Silva disse que a imprensa é a responsável pela baixa repercussão das prisões.
Mídia
"A mídia só se interessa pelos líderes e não se preocupa com as pessoas que compõem a base do movimento", disse Silva.
"A Diolinda (Alves dos Santos, que esteve presa entre janeiro e março), por exemplo, vende bem nos telejornais. Foi construída uma imagem em cima do fato de ela ser mãe e estar se sacrificando pelo movimento."
Silva disse que o MST está tão empenhado na libertação dos dois militantes quanto esteve no caso dos líderes sem-terra.
"Não fazemos distinção entre as prisões. Elas são igualmente arbitrárias e políticas. Nossos advogados estão acompanhando de perto esses casos desde o início."
A advogada Meire Orlandini, que tem cuidado dos casos de Mineiro e Mundin, disse que está se empenhando.
"Mas há muitos inquéritos e processos em andamento envolvendo o movimento", afirma.
A Agência Folha tentou falar com Mineiro, preso na Casa de Detenção de Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo).
O diretor do presídio, Perci de Souza, não autorizou a visita. Presos condenados só podem dar entrevista com concordância da Secretaria estadual da Justiça.
Mineiro, no MST desde 1990, foi condenado à revelia, porque não compareceu às audiências para as quais foi convocado.
Mineiro responde a outros dois processos. Ele é acusado da morte de Sebastião Alves dos Santos, em 1994. Santos era administrador da mesma fazenda, que foi desapropriada pelo governo do Estado.
No outro processo, Mineiro é acusado de furtar e abater duas vacas na fazenda.

Colaborou Fábio Zanini, da Agência Folha

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