São Paulo, segunda-feira, 18 de março de 1996
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Bienal traz sincretismo de Wifredo Lam

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

A presença do pintor cubano Wifredo Lam (1902-1982) na Bienal Internacional de São Paulo, que acontece entre 5 de outubro a 8 de dezembro, fecha o que se poderia chamar a "santíssima trindade do divino".
Mas o termo aqui não faz remissão à simbologia cristã. Muito pelo contrário. Junto com Mestre Didi e Rubem Valentim, os dois brasileiros que -assim como Tomie Ohtake- ganharam salas especiais nesta 23ª edição do evento, o artista cubano mostra-se não como um dogmático, mas como defensor do sincretismo artístico-religioso.
Os três vão compor um bloco coeso na Bienal, ao lado de atrações bem mais saborosas para o público e para a mídia, como Paul Klee, Picasso, Goya e Munch (leia abaixo quadro com atrações internacionais do evento).
Se de um lado, os artistas emergentes trabalharão o tema principal da evento -"A Desmaterialização da Arte no Final do Milênio"- através do uso de novos materiais, linguagens e ocupação dos espaços, no caso de Lam, a desmaterialização se dará na relação entre o visível e o invisível.
Nos 40, depois de sua experiência surrealista, Lam volta para Cuba. Ali, influenciado pelo simbolismo das esculturas africanas, cria figuras polimórficas, resultado da fusão de homens, plantas e animais. A partir de 1946, depois de uma viagem ao Haiti, Lam passará a utilizar ainda imagens de deuses e ritos vodus.
As semelhanças de Lam com Mestre Didi e Rubem Valentim são evidentes. O vodu é um rito africano de origem Jeje que saiu do atual Benin e se espalhou pelas Antilhas.
Mestre Didi vive no candomblé. Foi iniciado aos oito anos de idade, cresceu na cultura nagô e desde adolescente esculpe objetos para os rituais do candomblé.
Também baiano de Salvador, Rubem Valentim (1922-1991) reuniu candomblé e construtivismo. Reduziu-os às suas formas geométricas básicas, mas não destituiu-os da simbologia da cultura nagô.
O invisível
Segundo o curador-chefe da Bienal, Nelson Aguilar, esta relação com o invisível não se manifesta apenas nas salas especiais de Rubem Valentim e Mestre Didi, mas também em mostras especiais, como a de Munch.
"Este é um tema que atravessa subjacente toda a arte do século 20. Picasso, Klee, Kandinski estão muito nesta linha. O Munch, por exemplo, tem uma relação com o invisível. Seu tema é o desespero, o ciúme, a angústia. Ele é o avô da Louise Bourgeois, que trabalha com fantasmas", disse.
Não será a primeira vez que Lam vem à Bienal. Em sua 18ª edição, em 1985, o Museu Nacional de Belas Artes de Cuba apresentou 40 das obras do artista de seu acervo.

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