São Paulo, segunda-feira, 18 de março de 1996
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'Porky's' é sintoma de doença norte-americana

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Quem não pode ser o melhor, tem que ser o pior", disse Rogério Sganzerla. Uma divisa que a série "Porky's" poderia retomar, numa boa.
Mas Sganzerla falava de um cinema sem recursos, de maneira que "pior" queria dizer também aquele que transitava da penúria à vanguarda sem transições, buscando uma compreensão do mundo apesar de todas as vicissitudes.
Visto assim, "Porky's Contra-Ataca" (Globo, 0h10) está nos antípodas, por exemplo, da pornochanchada que vigorou no Brasil entre os anos 70 e início dos 80.
Com todos os seus defeitos (e são incontáveis), a pornochanchada oferecia a um público excluído do mundo das letras uma maneira de compreender (muitas vezes equivocada) as profundas transformações de costumes que aconteciam naquele momento.
Procure isso em "Porky's". Não há nada. Existe o cultivo da safadeza pela safadeza, uma maneira curiosamente mecânica de observar (e rebaixar) a sexualidade humana.
Como isso é revestido pela forma de comédia juvenil, essa concepção perversa da sexualidade não se deixa notar tão claramente.
Se, porém, se articular as traquinagens de "Porky's" à onda de "serial killers" e psicopatas que invadiram as telas nos anos 90, será possível perceber que esses filmecos enunciam, já, uma doença norte-americana.
(IA)

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