São Paulo, segunda-feira, 18 de março de 1996
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O ELIXIR DA POLÊMICA

Em suas experiências na Idade Média, os alquimistas nutriam a esperança de que cedo ou tarde encontrariam substâncias a partir das quais não somente seria possível transformar em ouro os outros metais, como também rejuvenescer os homens. A já duradoura polêmica em torno das mensalidades escolares no Brasil parece estar extemporaneamente impregnada pela alquimia medieval.
As três partes implicadas na questão (pais, escolas e governo) até agora não encontraram, e por certo não encontrarão, o ouro desejado, isto é, uma fórmula mágica que satisfaça plenamente a todas as demandas.
No tradicional braço-de-ferro entre os três polemistas, os pais representam, notoriamente, a parte mais fraca. E o progressivo (e desejado) abandono da intervenção estatal na economia tende, em boa hora, a afastar o governo de qualquer iniciativa de controle excessivo no setor privado.
Em debate realizado pela Folha na semana passada, representantes do governo, da Fipe, das escolas e dos professores apresentaram muitas razões, em grande parte convincentes, em defesa de seus interesses. Poucos duvidam de que excessos -dificilmente justificáveis após a estabilização da moeda- vêm sendo cometidos nos aumentos das mensalidades.
Também parece evidente que as escolas particulares, como qualquer empresa privada, precisam fazer investimentos em sua atividade, e esses recursos têm origem na lucratividade das instituições.
No entanto, enquanto o ensino particular estiver preenchendo uma lacuna que, a rigor, o setor público teria de ocupar, oferecendo ensino gratuito de qualidade a todos os cidadãos, a margem dessas instituições poderá ser indevidamente elevada.
Sem uma substancial melhoria da educação na rede pública, o "elixir da juventude" forjado para o problema das mensalidades se limitará a rejuvenescer uma polêmica que já deveria estar sendo sepultada.

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