São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Cinesesc exibe os melhores de 95

Crítica e público elegem o filme "Antes da Chuva"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Se alguém dissesse, há alguns anos, que crítica e público concordaram em matéria de filme brasileiro, ia parecer piada.
Pois este ano os cinco filmes mais votados pelo público do Cinesesc e os cinco escolhidos por críticos coincidem. E na mesma ordem.
No "Festival Sesc dos Melhores Filmes de 1995", que começa hoje (veja quadro ao lado com a programação de março), o preferido foi "Terra Estrangeira", de Walter Salles Jr. Depois vêm "Sábado", de Ugo Giorgetti, "O Quatrilho", de Fábio Barreto, "Carlota Joaquina", de Carla Camurati, e "No Rio das Amazonas", de Ricardo Dias.
Também o setor filmes estrangeiros registra uma coincidência logo no primeiro lugar: "Antes da Chuva", do macedônio Milko Manchevski.
A diferença é que a pontuação do público lhe foi amplamente favorável (1.580 pontos, contra 576 de "O Carteiro e o Poeta", segundo colocado).
A crítica, ao contrário, deu-lhe uma vitória razoavelmente apertada (284 pontos) sobre "Tempo de Violência" ("Pulp Fiction"), de Quentin Tarantino (263).
A contribuição da crítica, este ano, terá consistido em chamar a atenção para filmes vistos em circuito restrito, ou que simplesmente fracassaram na bilheteria.
São os casos de "Através das Oliveiras", do iraniano Abbas Kiarostami, "O Ódio", do francês Mathieu Kassowitz, "Ed Wood", do norte-americano Tim Burton, e "Caro Diário", do italiano Nanni Moretti. Nenhum deles entrou na relação do público.
Se existe uma coincidência até certo ponto surpreendente na escolha de "Um Olhar a Cada Dia", do grego Theo Angelopoulos, também é surpreendente a votação pífia de alguns filmes de sucesso.
"O Balão Branco", do iraniano Jafar Panahi, foi apenas o nono preferido do público, e ficou em 11º na lista dos críticos. O notável "As Pontes de Madison", de Clint Eastwood, não passou de 13º entre os críticos e não foi sequer lembrado na votação do público.
Outra semelhança que aproxima as duas listas é a indicação de Massimo Troisi, de "O Carteiro e o Poeta", como melhor ator.
Daí por diante, seguem-se divergências. Meryl Streep ("As Pontes de Madison") foi a melhor atriz para a crítica; Jodie Foster ("Nell"), para o público. Os críticos preferiram Mathieu Kassowitz como melhor diretor; o público optou por Quentin Tarantino.
Entre os brasileiros, "Carlota Joaquina" fez uma razia na votação dos espectadores: ganhou direção (Carla Camurati), atriz (Marieta Severo) e ator (Marco Nanini).
A crítica dividiu-se entre "Sábado" (Ugo Georgetti, diretor, e Otávio Augusto, ator) e "O Quatrilho" (Glória Pires, atriz).
Entre mortos e feridos, resta a oportunidade de ver ou rever -talvez pela última vez em tela grande- uma série de filmes que marcaram o ano de 1995.
E até mais do que isso. Anualmente, o Festival do Sesc propõe a possibilidade de confrontar as tendências do cinema, tal como é vivenciado no Brasil. Este ano, existe uma amostragem significativa de filmes brasileiros exibidos e votados (17, o que é uma enormidade frente a anos recentes). Pela primeira vez, desde 1990, existe uma diversidade de propostas, capaz de situar o interessado no encontro (ou desencontro) entre o público, críticos e realizadores.

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