São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Nicotina é manipulada, diz cientista

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Dois cientistas que trabalharam para a Philip Morris, a maior produtora de cigarros dos Estados Unidos, a acusaram ontem de saber que a nicotina age como uma droga e de controlar a quantidade de nicotina em seus produtos.
Os principais executivos da Philip Morris testemunharam diante do Congresso dos EUA no ano passado que a empresa nunca manipulou a quantidade de nicotina em seus cigarros.
William Farone, ex-diretor de pesquisas da Philip Morris, e Ian Uydess, ex-integrante da equipe científica da empresa, contradizem a Philip Morris em depoimentos juramentados entregue à Food and Drug Administration (FDA).
A agência do governo federal encarregada de controlar remédios, medicamentos e drogas vendidas ao público está tentando provar que o cigarro é uma droga que provoca dependência e deveria ter sua venda controlada pelo Estado.
O vice-presidente de assuntos corporativos da Philip Morris, Steve Parrish, disse que a empresa ainda não teve tempo de examinar com cuidado os depoimentos de seus ex-funcionários.
Mas ele diz achar que, em princípio, os testemunhos de Uydess e Farone "não têm nada de novo".
No ano passado, outro ex-funcionário de outra produtora de cigarros, Jefrey Wigand, da Brown & Williamson, fez acusações parecidas com as de Uydess e Farone.
Eles também afirmam que a empresa realizou "pesquisas exaustivas" para determinar como a nicotina cria e mantém a dependência de fumantes.
Processos
O Departamento da Justiça dos EUA investiga desde o início do governo Clinton (janeiro de 1993) os produtores de cigarro no país.
Pelo menos cinco casos estão abertos, e os executivos da indústria de cigarro podem ser indiciados nos próximos meses por perjúrio, fraude e obstrução da Justiça.
Outros processos estão sendo abertos pelo governo federal contra os produtores de cigarros, enfocando atividades financeiras.
No ano passado, o governo Clinton baixou decreto-lei para limitar a publicidade de cigarros e o acesso de menores de idade a produtos com tabaco.
Na semana passada, a menor das cinco grandes produtoras de cigarro do país, a Liggett, chegou a um acordo com os governos de cinco Estados norte-americanos que a estavam processando por perdas em seu sistema de saúde pública devido a enfermidades provocadas por cigarros.
A indústria do tabaco nos Estados Unidos fatura US$ 45 bilhões por ano. O valor das ações de todas as empresas produtoras de cigarro caiu ontem nas bolsas norte-americanas.

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