São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Sérvios desocupam Sarajevo hoje

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A polícia dos sérvios da Bósnia deixou ontem o subúrbio de Grbavica (arredores de Sarajevo, a capital), na véspera da passagem da área para o governo bósnio de maioria muçulmana.
Houve uma cerimônia com 40 policiais em farda de gala. A bandeira dos sérvios da Bósnia foi arriada ao som do hino deles, em um alto-falante movido a gerador.
A 50 metros do local, duas casas queimavam -uma delas, com munições, explodiu. Muitos sérvios deixaram o local e queimaram as casas para impedir que os muçulmanos e croatas as ocupem.
Grbavica é o último dos cinco bairros de Sarajevo a passarem para a administração do governo de maioria muçulmana.
A transferência é parte do acordo de Dayton, que pôs fim a quase quatro anos de guerra entre os sérvios da Bósnia (que não aceitavam a independência) e o governo.
A federação muçulmano-croata, estabelecida pelo acordo de paz, deve começar a patrulhar a área às 6h de hoje (2h em Brasília). Até então, a segurança do bairro estará a cargo de tropas da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, e de policiais da ONU.
Durante a madrugada de ontem, várias casas foram destruídas por incêndios. Apesar de visíveis em toda a cidade, eles não foram debelados pelos bombeiros sérvios, que implicitamente concordam com a destruição do subúrbio.
A ONU diz que um clima de impunidade se instalou em Grbavica nos últimos dias. Poucos moradores deixaram para sair na última hora. Forças da Otan prenderam no domingo 12 moradores acusados de assaltos. Levados às autoridades sérvias, foram imediatamente liberados.
O general Rasim Delic, comandante do Exército da Bósnia, prometeu para hoje um plano de retirada de 4.500 soldados seus da zona desmilitarizada de Sarajevo -o que também deve acontecer até amanhã, segundo o cronograma do acordo de paz.
O plano de paz criou entre muçulmanos-croatas e sérvios uma "linha de separação", de 4 km de largura e 1.000 km de extensão, cortando todo o país, que já está desmilitarizada.
O último ponto ficou sendo Sarajevo. O governo pediu permissão para manter algumas instalações militares na cidade, mas a Otan negou. A retirada de Sarajevo atrasou por razões topográficas e técnicas, segundo a Otan.
O órgão disse que os ex-rebeldes sérvios e os milicianos croatas da Bósnia já deixaram a cidade.
Os sérvios libertaram ontem 13 muçulmanos que haviam sido detidos no mês passado, em uma violação aos termos do acordo de paz.

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