São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996 |
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EUA e Brasil divergem sobre novo bloco
CLÓVIS ROSSI
O novo nó nas relações Brasil/EUA chama-se Alca, em português, e FTAA, em inglês, sigla de Área de Livre Comércio das Américas, ambicioso projeto de criação de uma ZLC (zona de livre comércio) abrangendo todos os 34 países americanos, excluída apenas Cuba. Hoje e amanhã, na cidade colombiana de Cartagena, responsáveis pelo comércio exterior desses 34 países estarão discutindo os próximos passos a dar na construção dessa ZLC. Brasil e EUA chegam a Cartagena com visões bastante diferentes. Os norte-americanos querem apressar o processo, o que exigiria dos demais países uma abertura adicional de seus mercados. O Brasil acha "algo inconsistente que se dê ritmo negociador muito acelerado à construção hemisférica", diz o embaixador Botafogo Gonçalves, principal negociador pelo Itamaraty. Não é apenas o ritmo que separa Brasília de Washington nessa matéria. Há também a forma de se chegar à Alca. Os EUA querem atrair cada país individualmente. O Brasil prefere que a negociação se faça com os blocos regionais já constituídos ou em processo de formação. No caso específico do Brasil, portanto, a negociação não seria bilateral, mas entre EUA e Mercosul, o conjunto formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. É simples entender as razões: 1 - O Mercosul é mais forte, obviamente, do que cada um de seus quatro países, o que dá ao bloco mais força negociadora. 2 - O Mercosul já tem seu próprio cronograma de abertura econômica e o governo brasileiro acha mais prudente e lógico segui-lo do que render-se a um calendário imposto pela maior potência mundial. Ou, como explica Gonçalves: "A transição (do protecionismo que marcou a política brasileira para a abertura) exige um prazo para respirar e adaptar-se à competição." O embaixador garante que esse prazo não é mero pretexto para escapar da competição, mas "uma realidade econômica perfeitamente compreensível". O contencioso não se limita à divergência sobre a Alca. O governo brasileiro vem insistindo em que os EUA removam barreiras para determinadas importações. Queixa-se, por exemplo, da aplicação que considera injustificada de medidas antidumping contra produtos siderúrgicos brasileiros, do uso de tarifas elevadas para a importação de suco de laranja e de exigências fitossanitárias exageradas na área da agropecuária. "Há também um dossiê em curso sobre as dificuldades de acesso ao mercado norte-americano nas áreas de calçados e têxteis", informa Botafogo Gonçalves. Texto Anterior: Argentina investirá US$ 5 bi em energia Próximo Texto: Ministro negocia barreiras dos EUA Índice |
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