São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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FPF recua e pode agir no 'caso da fita'

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Federação Paulista de Futebol só espera que o promotor faça a denúncia no inquérito do caso da "fita do suborno" para abrir um processo próprio.
O inquérito policial apura se o presidente do Botafogo-SP, Laerte Alves, contratou o ex-árbitro Wilson Cattani para "fabricar resultados" no Paulista da Série A-2 de 95.
E apura se Cattani pagou a algum juiz para que agisse de forma fraudulenta em favor do Botafogo, que conseguiu um lugar na Série A-1.
"Se o promotor fizer a denúncia e a Justiça acatá-la, abrimos processo esportivo contra os denunciados", afirmou Eduardo José Farah, presidente da FPF.
Essa declaração sinaliza uma mudança de posição da entidade.
Seu vice-presidente, Rubens Approbato Machado, havia declarado que a FPF não tomaria nenhuma decisão antes da Justiça.
Machado ocupava a presidência da entidade quando o caso da fita tornou-se público, em outubro.
A posição de Machado coincide com a do presidente do Tribunal de Justiça Desportiva, Marco Polo del Nero.
Em dezembro, Del Nero disse que considerava "quase impossível" a punição do Botafogo porque a eventual condenação na Justiça só sairia após o prazo previsto na legislação para a punição do clube.
Del Nero e Machado sustentam que, se não ficar provada a fraude nos jogos, o Botafogo não será punido ainda que fique evidenciada a ligação entre Cattani e Alves.
Mas Farah dá sinais de quer solução rápida. "À Federação interessa a apuração da verdade. Fomos nós que pedimos o inquérito."
Farah e Cattani tem relações rompidas desde 88. Cattani foi um dos cerca de 30 árbitros e bandeirinhas afastados por Farah, quando este chegou à presidência.
O afastamento cortou a carreira de Cattani no auge. No final do ano anterior, ele havia bandeirado um dos jogos da final do módulo verde do Brasileiro de 1987, entre Inter-RS e Flamengo.
O afastamento não ocorreu de forma oficial -os juízes simplesmente deixaram de ser escalados.
A Folha apurou que o motivo foi suspeita de que alguns juízes teriam fraudado suas próprias arbitragens. Cattani sempre negou.
Nunca houve um processo formal contra qualquer árbitro ou bandeirinha na FPF ou na Justiça.
O processo que a Federação pode mover é baseado no Código Brasileiro Disciplinar de Futebol.
Segundo Farah, ele estabelece que, caso Alves seja considerado culpado, a pena pode ir até sua eliminação do futebol. A pena para o Botafogo poderia ser até de dois anos de suspensão.
"Não posso punir o Cattani porque ele não é ligado oficialmente ao futebol. Mas todas as partes terão direito de defesa", disse Farah.

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