São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Rede já tem tribunal

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Os fãs do Court TV, o canal a cabo exclusivo de assuntos legais e o primeiro a transmitir ao vivo julgamentos e decisões nos tribunais americanos, vão ficar decepcionados.
O tradicional show estrelado por advogados e promotores, com testemunhas emocionadas e a figura imponente do juiz, será em breve substituído por frases no computador.
Vem aí o julgamento virtual. Idéia de um grupo de advogados e associações legais americanas, que pretendem estabelecer o primeiro julgamento através da Internet.
Justiça em rede
Chamado de Projeto de Magistrado Virtual, o endereço irá atender, em princípio, apenas casos de disputas relacionadas a Internet ou outras redes de computadores. E será inteiramente resolvido on line.
Os organizadores do projeto esperam que os frequentadores das redes dêem preferência à ciberjustiça.
Eles argumentam que, além de lentos, os tribunais atuais são abarrotados de causas.
Entre outros grupos, o projeto está sendo apoiado pela Associação Americana de Arbitragem, o Instituto da Lei Ciberspacial e pelo Centro Vilanova de Informação, Lei e Apólice. A verba inicial é de cerca de US$ 75 mil.
O novo tribunal virtual já convocou oito especialistas, que vão atuar como magistrados, decidindo as disputas por meio de arbitragem.
Apesar de a maioria dos ciberjuízes ser de profissionais com muitos anos de experiência, alguns deles são especialistas da Internet treinados para atender esses tipos de causas.
Por apenas US$ 10, o Projeto estará recebendo processos via correio eletrônico. O endereço na Internet é http:/vmag.law. vill.edu: 8080.
Assim que um caso chegar ao tribunal, será encaminhado a um dos juízes. Ele decidirá se o processo merece ser registrado ou se deve ser dispensado.
As partes envolvidas nas causas aceitas serão chamadas a discutir via Internet e, em 48 horas, o juiz dará o seu parecer.
Esse tribunal virtual tem outras vantagens para as questões malresolvidas no ciberespaço.
Os frequentadores da Internet podem estar brigando de duas partes opostas do globo e seria difícil marcar um lugar comum para um encontro.
Além do mais, o confronto via computador é menos constrangedor que o cara a cara.
Já para os juízes, o fato de não haver contato físico com os réus é complicado.
Alguns deles argumentam que é bem mais difícil tomar decisões sobre as pessoas sem observá-las pessoalmente.
Falta poder
Mesmo que role muita encrenca online, vai demorar ainda algum tempo até que o tribunal virtual se consolide.
No momento, ele não tem, por exemplo, o poder de obrigar a parte que perdeu o processo, ou que foi condenada, a cumprir sua pena.
Os profissionais que desenvolveram o projeto esperam que, quando as primeiras causas surgirem na tela, haverá a opção de intimar judicialmente os envolvidos.
Com isso, as decisões do tribunal virtual terão a sustentação dos tribunais tradicionais.

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