São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Acaba ocupação sérvia em Sarajevo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Sarajevo voltou a ser uma cidade reunida ontem, após quase quatro anos de combates entre sérvios e muçulmanos da Bósnia.
O gesto simbólico de devolução do subúrbio de Grbavica, o último ainda sob controle dos sérvios, aconteceu durante a manhã, quando a Polícia Federal da Bósnia entrou no bairro, seguida de soldados da Otan.
A retirada sérvia cumpre uma das cláusulas do acordo de paz firmado em Dayton (EUA), no ano passado. A população sérvia do bairro, entretanto, se opôs.
A maioria fugiu e colocou fogo em várias casas, para impedir que fossem usadas pelos muçulmanos.
A população do subúrbio atualmente não passa de 2.000 pessoas, que viram aliviadas o fim do domínio sérvio.
Na noite de anteontem para ontem, a polícia sérvia já havia se retirado. Houve vários saques. "A última noite foi muito perigosa, mas hoje é como o renascimento", afirmou Abdulah Alibegovic, 57, muçulmano.
Uma croata chamada Nadja disse à agência "Efe" que teve sua casa atacada durante a noite. Minka, muçulmana, disse que saqueadores entraram em sua casa, agrediram-na e só se foram quando descobriram que ela não tinha jóias ou dinheiro.
Segundo Peter Fitzgerald, chefe das forças policiais internacionais em Sarajevo, a maioria dos habitantes que ficaram são famílias de casamentos interétnicos.
A guarnição da Polícia Federal (do governo de maioria muçulmano-croata) no bairro vai ter 20 sérvios leais ao governo, 5 croatas e 75 muçulmanos. Outros quatro subúrbios que estavam em poder dos sérvios já foram devolvidos.
A reunificação da capital da Bósnia é um dos pontos do acordo de Dayton, que criou uma entidade sérvia (ocupando 49% do país) e outra muçulmano-croata (51%).
O presidente da Bósnia, Alija Izetbegovic, disse ontem que os quase 200 guerrilheiros muçulmanos que foram lutar ao lado do governo bósnio já deixaram o país.
A acusação é feita por funcionários da Otan, que dizem que a presença deles seria um desrespeito ao acordo de paz.
O presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, disse que serão necessários mais de US$ 5 bilhões para a reconstrução da Bósnia.
Segundo ele disse ao semanário alemão "Die Zeit", 90% das centrais e fios elétricos foram destruídos, e um terço das escolas e hospitais estão em ruínas.
A guerra começou quando a Bósnia declarou sua independência em relação à antiga Iugoslávia. A minoria sérvia do país não aceitou a decisão.

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