São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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Filho diz que alterou o cenário do crime

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Frederico Vanetti de Araújo, 34, admitiu ontem ter alterado a disposição dos objetos no quarto onde morreu seu pai, o empresário Ney Bittencourt de Araújo, dono da Agroceres, antes da chegada da polícia.
Vanetti, que está preso no 81º DP, no Belém (zona leste de SP), teve prisão preventiva decretada ontem pelo juiz Newton Santos de Oliveira, que cuida do caso.
A declaração foi feita em interrogatório no 1º Tribunal do Júri de São Paulo. O crime aconteceu em 14 de janeiro, no apartamento de Ney Araújo, em São Paulo.
Vanetti está sendo acusado pelo Ministério Público de homicídio qualificado. Na avaliação da promotora Eliana Passarelli, responsável pela acusação, ele teria matado o pai intencionalmente e sem chance de defesa.
No relatório final do inquérito, o delegado Ivaney Cayres de Souza concluiu que a versão de acidente era "impossível".
Terceira mudança
É a terceira vez que Vanetti modifica seu depoimento. Em sua última versão, ele havia dito que atirou no pai acidentalmente, quando tentava impedi-lo de se suicidar.
No depoimento prestado ontem, Vanetti manteve a versão de acidente, mas diz ter alterado o cenário do crime para que não parecesse que o pai tentou o suicídio.
"Eu arrumei o quarto para parecer um acidente, para não passar a imagem dele de suicida."
Ele disse que, quando viu que o pai caído, ligou para a polícia, ambulância, a secretária do pai e uma tia. Depois, teria descido para chamar o vigia. O corpo foi deixado na garagem. Vanetti afirmou que voltou ao apartamento para "ver se havia algum indício de suicídio."
Para a promotora Eliana Passarelli, o relato foi "comprometedor". "O depoimento mostra que houve omissão de socorro."
Vanetti não soube explicar ao juiz de que forma segurou a arma do pai. Disse que provavelmente havia apertado o gatilho, mas que não se lembrava exatamente em que posição havia pego a arma.
Coerência
Para Gontran Guanaes Simões, advogado de defesa de Vanetti, o depoimento foi bom. Ele discorda que o interrogatório tenha comprometido seu cliente. "Estamos mantendo a coerência desde que Vanetti contou sua versão, de que foi um acidente."
O advogado deve impetrar o pedido de habeas corpus para Vanetti ainda nesta semana. A próxima audiência acontece no dia 2 de abril.
Segundo a estimativa da promotora, o caso deve estar encerrado em 40 dias. Se for condenado por homicídio qualificado, Vanetti pode pegar de 12 a 30 anos de reclusão e perde o direito à herança do pai.

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