São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996 |
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A morta-viva
CLÓVIS ROSSI São Paulo - O senador José Eduardo Dutra (PT-SE) parece ter razão quando diz que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro será um "cadáver insepulto".O senador petista fazia essa avaliação ontem à tarde, antes que terminasse a reunião da bancada do PMDB no Senado, em princípio destinada a colocar o último prego no caixão da CPI. Vai ficar no ar uma impressão exatamente oposta à que o presidente Fernando Henrique Cardoso transmitiu no seu pronunciamento de anteontem pela TV, no qual garantiu que "não há escândalos a encobrir nem pessoas a proteger". Não tenho elementos para dizer o contrário, mas o próprio empenho do governo em abafar a CPI provoca inevitáveis suspeitas. É verdade que CPIs são sempre um jogo complicado. Sabe-se como começam, mas é difícil saber como acabam. De toda forma, o governo conta com uma maioria suficiente, em especial no Senado, para manter sob certo controle a CPI, mesmo que viesse (ou ainda venha) a instalar-se. Causaria danos de fato graves ao sistema financeiro? A tese é discutível em qualquer circunstância, mas mais ainda depois que um alto funcionário do Banco Central revelou supostas irregularidades em um banco (o BMD) e nem por isso o banco quebrou. Eventuais revelações de uma CPI dificilmente teriam maior efeito sobre o sistema financeiro do que um anúncio público da autoridade responsável pela fiscalização. De todo modo, parece claro que o governo apostou na hipótese de que os danos políticos decorrentes da pressão para matar a CPI serão inferiores aos que poderiam ser provocados, na economia e, por extensão, no jogo político, pelas eventuais descobertas da investigação. Resta descobrir o porquê de tal aposta. Texto Anterior: ORÇAMENTO PARTICIPATIVO Próximo Texto: Fisiologia pré-datada Índice |
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