São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Clarimundo chora e alega inocência

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-vice-presidente de Controladoria do Banco Nacional Clarimundo Sant'Anna chorou e alegou desconhecer as operações de conversões informais da dívida externa em seu depoimento ontem na 13ª Vara Federal.
Ele também disse não saber o nome dos responsáveis pelas operações. Sant'Anna chorou durante sua defesa no inquérito aberto para apurar irregularidades cometidas pelo Banco Nacional em operações de conversão da dívida externa.
A juíza Marilena Franco disse, durante o depoimento, estar "perplexa" com o desconhecimento demonstrado por Sant'Anna sobre quais seriam os responsáveis pelas operações.
Sant'Anna, o Banco Nacional e o gerente de Comércio Exterior, Paulo Afonso Mesquita, sofreram advertência do Banco Central por 29 operações de conversão, onde deixaram de registrar comissões de US$ 1,8 milhão.
Eles recorreram ao Conselho de Recursos de Empresas de Administração Financeira do BC. O recurso ainda não foi julgado.
Na operação, o banco comprava em dólares títulos da dívida externa brasileira e os revendia para o Banco Central, recebendo em moeda nacional. Nessas operações o banco recebia comissões e não as declarava no balanço, segundo o BC.
Responsável
A juíza afirmou que o depoimento de Sant'Anna contraria a acusação do BC de que ele seria um dos responsáveis pelas operações.
Sant'Anna reconheceu sua assinatura em um documento do Banco Nacional explicando as operações ao Banco Central, mas disse que não tinha conhecimento do seu teor, que teria sido elaborado pelos advogados do banco.
Esse documento dizia que o Banco Nacional não iria "incorrer em erro de repetição" com relação às conversões.
Sant'Anna disse que o dia-a-dia do executivo é "infernal" e muitas vezes documentos são assinados só com explicação de assessores.
Linchamento
Ele chorou quando foi perguntado por que não compareceu para depôr na Procuradoria da República e no Senado. Ele disse que parte da imprensa o submeteu "a um linchamento moral" e por isso não teve condições de depôr.
Na platéia, sua filha, Flávia, também chorou neste momento.
"A liberdade de imprensa é a base da democracia, mas por parte da imprensa eu estive moralmente linchado. Eu, minha mulher e meus filhos", disse.

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