São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Fisiologia e déficit

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Descontadas as críticas éticas e morais, sobra uma dúvida sobre o festival de fisiologia promovido por Fernando Henrique Cardoso: aumenta ou não o déficit público?
Um dos maiores especialistas sobre contas públicas no Brasil, o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, acha que FHC não gasta um tostão a mais do que previa.
"Eu fico doente de ver as análises sobre isso. A fisiologia só pode comprometer, eventualmente, a qualidade do gasto. E não aumentar o gasto. Os gastos ficaram atrelados ao Orçamento a partir da segunda metade dos anos 80", ensina o ex-ministro.
Para Mailson, é uma estupidez dizer que vai faltar dinheiro para aposentados ou para certos programas prioritários do governo.
É que o Orçamento da União reserva dinheiro especialmente para gastos como Previdência, saúde, merenda escolar etc.
Dar uma ponte para Rondônia ou uma estrada para Tocantins -no parecer de Mailson da Nóbrega- em nada aumenta o gasto do governo FHC. O dinheiro seria mesmo usado para esse tipo de obra.
É uma análise de um respeitado especialista. Mas não serve de desculpa para o governo. Verba mal dada é sempre dinheiro desperdiçado.
O parlamentar ou governante fisiológico que ganha verba em troca de voto no Congresso pode, muito bem, gastar o dinheiro de forma errada.
Além disso, o maior exemplo de fisiologismo foi a federalização da dívida do município de São Paulo. A cidade deve R$ 3,336 bilhões. O governo federal assume e Paulo Maluf fica devendo direto para FHC.
"A dívida continua a existir. Era dívida municipal e passa a ser federal", diz Mailson, de forma irretocável.
Tudo bem. O problema é saber se São Paulo vai honrar a dívida. Aí, alguém pagará o preço do fisiologismo. E esse alguém é o contribuinte.

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