São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Aliados apostam na divisão do PMDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REDAÇÃO

O PMDB comemora 30 anos na Convenção Nacional de hoje sob o risco de deixar de ser o maior partido do Congresso Nacional (97 deputados e 24 senadores).
Os constantes exemplos de falta de unidade demonstrada nas discussões de temas polêmicos já estimulam em seus aliados no Parlamento, em especial PFL e PSDB, apostar em sua desintegração para aumentar suas bancadas.
Na semana passada, por exemplo, os senadores peemedebistas racharam na discussão sobre o arquivamento ou não da CPI dos Bancos. Foram 11 votos a favor, 8 contra e duas abstenções.
Já na votação da reforma da Previdência, 15 de seus 97 deputados foram contrários à proposta do relator Michel Temer (PMDB-SP).
A Folha apurou que as direções das demais legendas governistas avaliam que a depuração do PMDB ao término das reformas constitucionais é inevitável.
O presidente do PSDB, Arthur da Távola, definiu, após encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso na última quinta-feira, o dilema peemedebista que fundamenta sua falta de unidade: "Ser ou não ser governo".
Herdeiro do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) -surgido em 1966 para ser o partido destinado a desempenhar o papel de oposição ao regime militar-, o PMDB, 30 anos depois, vive o trauma de não se libertar inteiramente desse caráter oposicionista.
A própria autodefinição do partido como sendo de centro talvez explique sua divisão.
"Um partido de centro é formado com a esquerda da direita e a direita da esquerda", dizia o deputado Amaral Peixoto, um dos fundadores do MDB.
A história peemedebista mostra que a legenda nasceu e vive até hoje dividida em dois blocos: um grupo "moderado" (a "esquerda da direita"), sempre disposto a fazer um bom acordo com o governo de plantão, e um grupo "autêntico" (a "direita da esquerda"), que se opõe ao presidente.
A desintegração do PMDB, segundo os aliados de FHC, vai deixar os peemedebistas históricos e os mais ligados ao ex-governador paulista Orestes Quércia no partido. Os demais iriam principalmente para o PSDB, legenda do presidente, e o PFL.
Em recente festa oferecida pelo líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), o ministro da Justiça, Nelson Jobim (PMDB), sentenciou: "O PMDB é um partido terminal. Uma confederação de partidos regionais em fase de extinção".
O presidente nacional da legenda, Paes de Andrade, reagiu às previsões do ministro. "As cassandras deveriam guardar suas opiniões para outro momento", disse.
Se Paes está se referindo à mitológica Cassandra, que recebeu de Apolo o dom da previsão, a comparação pode não ser muito feliz.
Por ter desagradado ao deus, Cassandra fazia previsões nas quais ninguém acreditava. O problema é que todas se realizavam.

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