São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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FHC trocou favores para impedir a CPI

REINALDO AZEVEDO

Coordenador de Política da Sucursal de Brasília O governo Fernando Henrique Cardoso recorreu à troca de favores e obteve duas vitórias: conseguiu aprovar a reforma da Previdência em primeiro turno e sufocou a CPI dos Bancos.
Os 351 votos na Câmara em favor da emenda da Previdência e os 48 no Senado contra a CPI custaram a FHC a desmoralização de reiterados discursos contra o fisiologismo e o clientelismo.
O resultado tenta cobrir com o tapete um rombo de mais de R$ 8 bilhões no Nacional e no Econômico, sob a vigilância do Banco Central, que, admite seu presidente, Gustavo Loyola, "errou".
A negociação não se resumiu às miudezas da troca de cargos por votos. Paulo Maluf (PPB), prefeito de São Paulo, firmou com FHC antigo compromisso de federalizar as dívidas do Município, estimadas em R$ 3,33 bilhões.
Isso significa que o Federação passará a ser credora do que a cidade deve aos bancos. Maluf saiu do encontro com o presidente devendo muito menos e podendo muito mais. Negociam até uma aliança PPB-PSDB para uma candidatura única à Prefeitura de São Paulo.
Mas não foram apenas os cofres públicos que perderam com o vale-tudo para dobrar o Congresso. O bom senso esteve ameaçado.
Dos EUA, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, sacou da algibeira, na segunda-feira, a fantasia predileta dos governos de plantão depois do regime militar.
Referindo-se à CPI dos Bancos, disse ver no horizonte a ameaça de um retrocesso institucional se o Congresso insistisse na CPI.
O binômio bancos-rombo ameaça ser uma das marcas do governo FHC. Na quarta, o ministro Malan (Fazenda) veio a público anunciar uma operação de salvamento do Banco do Brasil. Valor: R$ 8 bilhões. Impacto no déficit público: mais de R$ 2 bilhões.
FHC tem motivos para estar "de alma lavada". Resta agora explicar à opinião pública por que valeu a pena pagar tão caro contra a CPI dos Bancos.

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