São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Investidor espera avanço nas reformas

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

A continuidade dos planos de estabilização, a falta de controle de capitais voláteis e o prosseguimento das reformas internas nos países membros do Mercosul são os principais temas que interferem em investimentos na região.
Segundo economistas e consultores ouvidos pela Folha, investidores estrangeiros interessados em injetar dinheiro em atividades produtivas e no sistema financeiro da Argentina e do Brasil chegam a suspender seus planos à espera de cenários mais confiáveis.
No caso brasileiro, o que mais assusta é o avanço das reformas constitucionais.
O Informe Anual do BID de 1995, divulgado anteontem, pede "uma base mais duradoura e permanente" ao reordenamento das finanças públicas -o que pode ser entendido como reformas.
Votações no Congresso
As votações no Congresso Nacional vêm sendo acompanhadas com interesses, segundo o economista Roberto Lavagna, diretor da consultoria Ecolatina e ex-secretário de Indústria da Argentina.
"A questão mais séria no Brasil é que, quanto mais avança o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, mais difícil pode se tornar a implementação dessas reformas", diz Lavagna.
Para o consultor financeiro Walter Fabian Morales, as alterações na Constituição brasileira devem permitir, em última instância, a redução dos custos de produção -um tema de amplo interesse de investidores.
"Os donos do capital perguntam de que vai servir o Mercosul se as empresas não puderem exportar em condições vantajosas, com menores custos e preços", afirma.
O cenário argentino, para os consultores, é um dos que mais gera dúvidas. Lavagna assegura que os investidores estrangeiros não estão convencidos sobre a possibilidade de a Argentina alcançar equilíbrio fiscal nos próximos anos.
"O tema torna-se ainda mais duvidoso quando se leva em conta que o país privatizou a maioria de suas empresas estatais", afirma.
"Não haverá, portanto, o ingresso de novas vendas para cobrir o pagamento de compromissos da dívida externa e interna, que estão aumentando", completa.
Além disso, Lavagna acompanha outra preocupação dos empresários que assessora. Não se sabe como será o comportamento das exportações se houver crescimento da economia do país e aumento do consumo interno.
"A Argentina só conseguiu superávit comercial quando entrou em recessão", assegura.
Acordo vetado
A essas incertezas, a Argentina ainda acrescentou outra. Trata-se da recente decisão da Justiça do país de desautorizar o acordo firmado entre a Fiat e o Smata (Sindicato de Mecânicos e Afins do Transporte Automotor).
O documento assinado previa a flexibilização das regras trabalhistas na fábrica que a Fiat pretende colocar em funcionamento no próximo ano, em Córdoba -um investimento de US$ 842 milhões.
"Nos últimos 15 dias, os investidores estrangeiros têm perguntado insistentemente sobre esse tema", diz Lavagna. "Eles se preocupam com a intervenção do poder político, por meio da Justiça, em decisões empresariais."
No entanto, os donos desse dinheiro são os que não se preocupam com a recessão no país -os que têm visão de longo prazo.
"O que ainda preocupa é a volatilidade. Quanto mais estável esteja um país, mais fácil será conseguir cumprir o que foi planejado."

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