São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Livro narra caçada a invasor de sistemas

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

A captura do hacker Kevin Mitnick fez a alegria de muitos jornalistas norte-americanos no ano passado. Tinha todos os elementos de uma grande história. Mitnick era o típico vilão: paranóico, solitário, obstinado e desagradável.
O hacker é um termo, não necessariamente pejorativo, usado para designar pessoas que têm habilidade para invadir sistemas de computadores.
O homem que o pôs na cadeia, Tsutomu Shimomura, também não fazia má figura como mocinho: especialista em segurança, atlético, obstinado e misterioso.
"O Pirata Eletrônico e o Samurai", (editora Campus), de Jeff Goodell, registra os lances sem dúvida cinematográficos da caçada, mas não deixa de lado a análise dos elementos de fantasia e exagero que acompanharam a cobertura do caso pela imprensa norte-americana.
Descreve a formação da idéia de hacker ao longo dos anos 80, com a ajuda de filmes como "Jogos de Guerra" e livros como "Neuromancer". Sugere que a demonização de Mitnick foi obra da vontade da polícia de mostrar serviço, do temor despertado no público pela onipresença dos computadores e pela imprensa.
Anticlima
No Brasil o lançamento de "O Pirata Eletrônico" é um tanto anticlimático, porque precede um de seus alvos: o livro "Takedown", do próprio Shimomura, em parceria com John Markoff, jornalista do "The New York Times".
A dupla levou US$ 700 mil só pelos direitos do livro, mais uma quantia não-revelada pelos direitos do CD-ROM e do filme.
Markoff envolveu-se pessoalmente na caçada a Mitnick e na ocasião da cobertura o "The New York Times" foi criticado por publicar as reportagens do jornalista sem mencionar sua ligação com o episódio.
Goodell, também jornalista, faz um relato correto e razoavelmente imparcial do duelo de hackers. Consegue tornar digeríveis as minúcias técnicas do caso, até para quem não tem muita paciência com computadores -em alguns momentos a perseguição é genuinamente eletrizante.
A figura de Mitnick aparece em "O Pirata Eletrônico" mais patética do que temível. Ele passava trotes com sotaque japonês em Shimomura e chegou a cumprimentar melodramaticamente seu perseguidor no tribunal.
Jamais tentou lucrar com as informações que obtinha em suas varreduras compulsivas de redes de dados (chegou a copiar arquivos com números de 20 mil cartões de crédito).
Oportunismo
Shimomura, que foi aclamado como herói quando capturou Mitnick, é uma figura no mínimo curiosa. Meteu-se a caçar o hacker por puro orgulho, só porque ele havia invadido seu computador.
Goodell não é menos oportunista que seu colega Markoff: "O Pirata" é afinal um livro de ocasião, alavancado por um modismo. Mas é também uma reportagem bem conduzida e despretensiosa que mantém a temperatura até o final, para quem não se incomoda com uns clichês narrativos aqui e ali. E não se leva demasiadamente a sério, boa idéia quando se anda numa fronteira tão tênue entre jornalismo e entretenimento.
Resta comparar com o "primo rico": "Takedown" será publicado no Brasil em abril, pela Companhia das Letras.

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