São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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China mantém pressão sobre Taiwan

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A TAIWAN

A China terminou ontem as manobras militares iniciadas a 8 de março e reafirmou sua disposição de manter a opção militar como um dos meios para atingir a reunificação com Taiwan, apesar dos sinais em busca de diálogo.
Taiwan pediu a "rápida retomada" das negociações semi-oficiais que mantinha com a China até junho, quando foram suspensas por Pequim. No sábado, Lee Teng-hui venceu com 54% dos votos a primeira eleição presidencial direta da história de Taiwan.
A China deslanchou as manobras militares com o objetivo de intimidar Taiwan e enfraquecer a candidatura de Lee Teng-hui.
A China acusa Lee Teng-hui, presidente desde 88, de implementar um plano secreto para levar Taiwan à independência, ou seja, de renunciar à reunificação. A separação veio em 1949. Tropas comunistas venceram os nacionalistas, que se refugiaram em Taiwan.
O governador da Província de Taiwan, James Soong, disse que a reunificação poderia ocorrer dentro de quatro anos, se Pequim concordar com a realização de eleições diretas para presidente.
A proposta repete a exigência já feita por Lee Teng-hui, de democratizar a China para obter a reunificação. Mas Pequim não demonstra intenção de promover reformas políticas que levem a eleições livres, limitando as mudanças à aplicação do capitalismo na economia.
A China ameaça invadir Taiwan caso a ilha declare independência. As manobras militares, que incluíram disparos de mísseis e uso de munição como em situação real de guerra, serviram para enfatizar a opção.
Além de veicular mensagem que reafirma a opção militar, a agência estatal de noticias "Xinhua", da China, disse que as manobras mostraram que "a qualidade das Forças Armadas é excelente". As manobras, no entanto, serviram para aumentar a popularidade de Lee em Taiwan. O candidato explorou o sentimento anticomunista do eleitorado.
Depois da eleição, China e Taiwan emitiram sinais de disposição para o diálogo. O braço de ferro mergulhou a região na mais tensa crise desde a década de 50. Os EUA enviaram dois porta-aviões em apoio a Taiwan.
Segundo a imprensa local, US$ 5 bilhões deixaram Taiwan neste mês em busca de um refúgio seguro. A China conseguiu mostrar que sua ameaça militar pode desestabilizar a economia de Taiwan, uma das mais dinâmicas do continente asiático.
Taiwan quer retomar as conversações suspensas em junho, quando Lee Teng-hui fez uma viagem privada aos EUA. Pequim disse que a visita era parte da estratégia pró-independência.
As conversações tratam basicamente dos laços econômicos e são chamadas de "semi-oficiais", porque participam delas entidades sem status governamental, mas orientadas, na verdade, por seus governos.

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