São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Museu da Bomba recebe ameaças

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

Seis anos depois de seu prefeito ter sido atingido por tiros disparados por um militante de direita e quase ter morrido, autoridades da cidade de Nagasaki (Japão) estão novamente recebendo ameaças de ultranacionalistas, infelizes com uma nova exposição sobre o ataque atômico à cidade em 1945.
A controvérsia está centrada na inauguração do novo Museu da Bomba Atômica. O museu, que existe há 41 anos, mostra a destruição da cidade e o sofrimento das vítimas da explosão da bomba, ocorrida no dia 9 de agosto de 1945.
Críticos japoneses e estrangeiros reclamavam que a exposição não explicava os eventos que levaram ao uso da bomba, as atrocidades japonesas na Ásia antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
A exposição revisada tentou remediar isso, mas, depois de ameaças anônimas por telefone e reclamações dos conservadores na assembléia local, elementos polêmicos da exposição foram retirados.
Fotografias de chineses massacrados pelo Exército Imperial (do Japão) no famoso Estupro de Nanquim em 1937 foram trocadas por imagens de japoneses marchando vitoriosamente sobre a cidade.
Segundo o jornal "Nagasaki Shimbun", foram retirados da exposição textos como: "Com sentimentos de inferioridade em relação ao Ocidente e de superioridade em relação à Ásia, o Japão começou o caminho para a dominação colonial na China e Coréia".
Partes tratando da morte de prisioneiros de guerra no ataque nuclear foram substituídas pelo ataque dos americanos a Okinawa, que deixou 147 mil civis mortos.
Yoichi Tanaka, diretor do Departamento de Sobreviventes da Bomba Atômica da cidade, disse que as mudanças foram feitas voluntariamente. Mas autoridades da cidade disseram que o museu "se curvou" aos nacionalistas japoneses.
Um grupo de 11 líderes locais, que disseram participar da Sociedade do Sol Nascente, enviou carta reclamando do tom inicial da exposição. "Há uma série de argumentos conflituosos sobre a veracidade de eventos como o Estupro de Nanquim, as escravas sexuais e o trabalho forçado", dizia.
Mesmo com as mudanças, membros do governo local esperam a reabertura do museu. Em 1990, o prefeito Hitoshi Motoshima foi atingido por tiros nas costas após dizer que o imperador Hiroito "tinha responsabilidade pela guerra".
Em Washington, o Instituto Smithsonian teve o mesmo tipo de problema que o Museu da Bomba Atômica, com razões opostas, por causa da exposição sobre o Enola Gay, avião que jogou a bomba em Hiroshima em 6 de agosto de 1945.

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