São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 1996
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Eletrobrás subestima consumo

CLAUDIO AUGUSTO

CLAUDIO AUGUSTO; MÁRCIO DE MORAIS
DA REPORTAGEM LOCAL

MÁRCIO DE MORAIS
A Eletrobrás falhou ao não se preparar para o aumento de consumo de energia após a introdução do Plano Real, em julho de 94.
A Folha apurou no Ministério de Minas e Energia que o aumento do padrão de consumo da população e a consequente explosão de vendas dos eletrodomésticos não foram considerados.
O previsto era um crescimento de 3% na demanda, mas o ministério se surpreendeu com um crescimento de 6,9%.
Furnas Centrais Elétricas, empresa federal dona das usinas e das linhas de transmissão atingidas pelo desligamento e subsidiária da Eletrobrás, negou que o sucateamento das usinas tenha tido papel determinante no blecaute.
Para o engenheiro-chefe da subestação de Furnas em Brasília, Otacílio Souza, embora a causa central do desligamento tenha sido de outra natureza -pela manhã ainda não sabia precisar o motivo-, o efeito cascata pode ser creditado "à falta de investimentos nas linhas de transmissão".
O engenheiro e consultor Lindolfo Paixão, ex-diretor da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e da Eletrobrás, disse que há risco de novos blecautes no país por causa da falta de investimento.
"Há muito tempo que o setor não investe nada", afirmou Paixão. De acordo com ele, 95% da energia elétrica consumida no país é gerada por empresas estatais.
Paixão disse que as estatais estão sem recursos para investir. "Hoje devemos ter entre 15 e 20 obras sendo tocadas fora do cronograma", afirmou o consultor.
As duas exceções, segundo Paixão, são as usinas de Porto Primavera, no rio Paraná, e Serra da Mesa, no rio Tocantins.
Ainda de acordo com o consultor, pelo menos dois fatores contribuíram para descapitalizar as estatais do setor elétrico e reduzir sua capacidade de investimento.
"As tarifas foram comprimidas para não influir na inflação. Alguns investimentos foram mal feitos por razão política", disse Paixão.
Paixão afirmou que a capacidade instalada no país é de aproximadamente 55 mil megawatts. Para expandir a oferta a uma taxa de 5% ao ano, a Eletrobrás deveria investir US$ 5,5 bilhões por exercício.

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