São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 1996 |
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Greve impede até casamentos em AL
ARI CIPOLA
Alessandra Santos da Silva, 21, e o noivo Sérgio Ricardo Nunes dos Santos, 21, que namoram há sete anos, tiveram de adiar o casamento planejado para o final de fevereiro. Na última quinta-feira, eles foram ao Fórum de Maceió tentar marcar nova data, desta vez para 12 de julho, mas não conseguiram. "Só caso se for no civil, porque a coisa é certa. Na igreja não vale nada", afirmou a noiva. Wilton Moreira, 60, um dos dois juízes que realizam casamentos nos fins-de-semana em Maceió, é contra a greve. "Juiz é como médico. Não pode negar socorro a quem precisa", afirmou Moreira, que ficou conhecido por ter sido responsável pela guarda de PC Farias em Maceió. Moreira disse que em 15 de fevereiro, um dia antes de a greve ser deflagrada, realizou 83 casamentos em um único ato. Os noivos queriam fugir da greve no Judiciário e anteciparam o casamento. Com a greve, deixaram de ser expedidos habeas corpus e mandados de prisão, o que torna ilegais as detenções feitas pela polícia. As viagens de crianças para outros municípios, Estados e países também estão impossibilitadas por falta de autorização judicial. Para os juízes, o atraso de três meses no repasse das verbas do Executivo para a Justiça transgride a Constituição e os deixa sem garantias para exercer a função. O governador Divaldo Suruagi (PMDB) afirma que não pode pagar os salários do Judiciário porque estaria privilegiando os 163 juízes, 11 desembargadores e 2.000 servidores da Justiça. Todos os 76 mil funcionários estaduais estão com os salários atrasados há três meses. A crise financeira de Alagoas é tão grave que os telefones das delegacias estão cortados e o governador decretou ponto facultativo, dispensando os servidores da obrigatoriedade de trabalhar. Cansado de tentar recursos em Brasília para pagar os 76 mil servidores, o governador foi nesta semana para os EUA tentar um financiamento de R$ 160 milhões. A quantia ajudaria a combater o déficit financeiro do Estado, que atinge R$ 20 milhões por mês. "O Judiciário entrou no caminho da ilegalidade, deixando quase 3 milhões de habitantes sem o estado democrático de direito", afirmou Romany Roland Cansanção, presidente da OAB de Alagoas. "Só voltamos ao trabalho quando forem restabelecidas as garantias constitucionais da categoria, o que só vai acontecer quando o governo repassar o que nos deve", afirmou o juiz Estácio Luiz Gama de Lima, 53, presidente da Associação dos Magistrados de Alagoas. Texto Anterior: Boa ação; Acinte; Canarinho, nada! Próximo Texto: Justiça fecha única lixeira municipal de Manaus Índice |
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