São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 1996
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Engajamento prevalece

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A ênfase no filme engajado deu o tom do Oscar-96. Do editorial lido por Christopher Reeve (a cena do ano) ao destino da maioria dos prêmios, arrematando com a entrega do Oscar de melhor filme pelo pioneiro astro negro Sidney Poitier, foi a vez da Academia celebrar o cinema com causa.
A vitória do holandês "A Excêntrica Família de Antônia" sobre "O Quatrilho" confirmou a regra. Foi um triunfo da militância feminista da cineasta Marleen Gorris.
Seu melodrama sobre quatro gerações de mulheres no pós-guerra tem feitura improvisada e evolução previsível. É irrelevante.
Bater "O Quatrilho", novelão escorado só por valores de produção e duas grandes atrizes (Glória Pires e Patrícia Pillar), não foi nada.
Duro é vê-lo vencer um mestre como Bo Widerberg ("All Things Fair"), uma das poucas admirações reconhecidas de Bergman.
Não que surpreenda. Segue a lógica do ano: o primado da política sobre a estética. A fraca lista de indicados já rezava por esta cartilha.
Filmes formal e tematicamente mais ousados foram esnobados, da completa omissão à lembrança marginal ("Cassino").
O engajamento não temeu a redundância. Dois filmes ligados à perseguição judaica sob o nazismo venceram nas categorias de documentário de curta e longa.
Àqueles que cobram coerência em suas escolhas, a Academia respondeu em alto estilo. Raras vezes explicitou tanto suas limitações.

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