São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 1996
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Criança usa Internet e brinquedos

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A mais recente diversão de minhas filhas no computador é abrir na Internet a página de sua escola, a Dwight School.
A gente fica boquiaberto de ver a esperteza dos dedinhos das pimpolhas lidando com o mouse. Coisa de mãe coruja.
Com um empurrãozinho, as duas acabam ligadas on line à escola e se divertem mandando mensagem para os professores.
E eu que aos 8 anos de idade mal conseguia segurar o lápis...
Nos EUA, 50% das escolas estão conectadas de alguma forma à rede. De todas as salas de aula do país, 9% têm um computador para se conectar à Internet.
Os números crescem tão rápido que já tem gente perguntando: será que vale a pena?
Janela para o mundo
Eu mesma já pensei na questão quando vi minhas meninas diante do computador do pai: será que o tempo delas não seria melhor aplicado brincando de boneca, andando de bicicleta ou colecionando besouros?
Há quem defenda a rede nas escolas como uma janela para o mundo. Vai acabar com fronteiras e permitir que crianças de todo o mundo troquem dados.
Há quem veja nisso uma grande perda de tempo, alegando que o computador fará para a criatividade e a comunicação entre as pessoas o que a calculadora fez para o ensino da matemática: criar a preguiça mental.
Cura dos males
Sou obrigada a citar de novo Clifford Stoll, um ex-cibermaníaco que se revoltou contra as máquinas e é hoje o crítico mais respeitado do uso dos computadores como cura dos males.
Segundo ele, os computadores são para a escola de hoje o que os projetores foram nos anos 60.
"Nós adorávamos ver filmes porque não precisávamos pensar por uma hora, os professores porque não precisavam dar aula e os pais também gostavam porque se convenciam do avanço tecnológico das escolas. Mas ninguém aprendia nada", disse Stoll recentemente ao "The New York Times".
Dá uma vontade louca de concordar com o Clifford, desplugar o computador e mandar a garotada brincar no quintal. Quintal, que quintal?
O mundo mudou e não adianta ficar sonhando com o tempo em que a gente apontava lápis com gilete.
A Internet veio para ficar, vai se expandir cada vez mais pelas escolas e a saída é encontrar a melhor forma possível de utilizá-la na educação.
O nó da questão está justamente aí: a rede ainda é um emaranhado onde o aluno mal instruído pode passar um ano letivo inteiro sem recolher uma só informação de valor educacional.
No momento, os educadores tentam definir as áreas em que vale a pena investir.
Existe consenso de que, se utilizada sob supervisão, a Internet pode ajudar os estudantes em pelo menos duas atividades.
Interligação on line
A primeira é a interligação on line com outras escolas para experimentos científicos, estimulando a competição e a troca de informações entre estudantes de diferentes lugares do mundo.
A segunda é a possibilidade de fazer excursões on line para visitar bibliotecas, centros de pesquisa ou professores que estejam distantes geograficamente.
Os especialistas dizem que é o marketing dos fabricantes, aliado à ansiedade dos pais, que criou a pressão pelo uso da Internet nas escolas.
Que o computador pode ajudar na educação do júnior, que ninguém duvide. Mas as mamães com fricote devem relaxar.
Depois de consultar algumas vezes a página da Dwight School, as crianças cansaram da brincadeira e voltaram a abrir uma gaveta com vestidos velhos, para se fantasiar de jornalista, bailarina e, argh!... Cinderela.

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