São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 1996
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TERCEIRO ROUND

Ninguém jamais teve dúvidas sobre as dificuldades que o governo federal deverá enfrentar para promover a tão necessária reforma administrativa. Dois eloquentes exemplos dessas dificuldades vêm dos Estados de Espírito Santo e de Santa Catarina, cujos governadores vêm encontrando fortíssimas resistências corporativas para fazer aprovar os seus projetos de reestruturação governamental.
Outro exemplo da dureza da tarefa de reconstruir o Estado pode ser medido a partir da quase desastrosa relação custo-benefício na aprovação da reforma previdenciária pelo Câmara. Para ver sancionadas umas poucas mudanças importantes no sistema, as concessões ao fisiologismo a muitos pareceram excessivas.
Tudo indica que o Congresso Nacional manterá o mesmo comportamento fisiológico-eleitoreiro em relação ao Executivo para aprovar a reforma administrativa. Num ano eleitoral, é quase inevitável uma maior vulnerabilidade dos parlamentares às pressões corporativistas dos que vêem ameaçados alguns dos atuais privilégios funcionais.
Outro obstáculo está na própria credibilidade com que o Executivo entrará agora nas negociações para a aprovação do projeto. O custo da recente recaída no clientelismo -durante o esforço final para aprovação da reforma da Previdência e para o abortamento da CPI dos Bancos- infelizmente transmite a inevitável desconfiança de que, quando o governo deseja, verbas para o clientelismo não faltam (bancada ruralista, crise do sistema financeiro, caso Banespa, federalização da dívida paulista etc.), malgrado a imperiosa necessidade da observação do princípio da austeridade administrativa.
E a capacidade do governo para resistir ao corporativismo dependerá, em larga medida, de sua competência para recuperar a credibilidade de bom negociador.

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