São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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PercPan cultua o samba do planeta

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tambores africanos e brasileiros procuram uma língua comum, no show de abertura do 3º Panorama Percussivo Mundial, hoje à noite, em Salvador, Bahia.
Até sábado, o tradicional Teatro Castro Alves receberá atrações nacionais e estrangeiras, com destaque para o percussionista senegalês Doudou N'Diaye Rose, que toca pela primeira vez no país.
A abertura desta noite também promete uma rara atração. Dividindo a direção artística do evento, Gilberto Gil e o percussionista Naná Vasconcelos vão reeditar uma parceria que não acontecia desde o verão de 1973, quando Gil acabara de voltar do exílio em Londres.
"É uma alegria incrível poder tocar de novo com o Gil", comemora o percussionista pernambucano, que se mudou para os EUA logo após o primeiro encontro.
Depois de coordenar o PercPan do ano passado, Naná sentiu necessidade de uma edição um pouco mais voltada para a música brasileira. Já com o auxílio de Gil, escolheu para 96 o mote "Samba da Minha Terra", emprestado do clássico samba de Dorival Caymmi.
"Esse verso de Caymmi é bastante amplo para englobar a idéia de um samba do planeta, o samba de várias terras", explica Gil.
"No Senegal, você tem o 'sabá', um ritmo com o mesmo significado do samba. Foi com ele que Doudou compôs o hino nacional do seu país. Já na Nigéria, você encontra o 'juju' ", compara Naná.
Segundo o percussionista, o festival terá várias surpresas. A começar da canção, ainda sem título, que Gil acabou de compor e deve ser exibida amanhã, no segundo show da dupla. "É algo na linha de 'Filhos de Ghandi', mas com a minha levada", adianta Naná.
Surpresas também não devem faltar durante a noite de encerramento, no sábado, quando Naná e Gil pretendem provocar encontros dos músicos estrangeiros com os brasileiros, sem ensaios prévios.
Além de Doudou Rose, o elenco internacional tem mais destaques. Originário da ilha de La Reúnion (próxima a Madagascar), o africano Granmoun Lélé é autor de mais de 200 canções e também estréia em palcos brasileiros.
Já o norte-americano Glen Velez é um compositor e professor de formação erudita que se especializou em instrumentos de percussão, especialmente alguns semelhantes ao pandeiro, encontrados no Marrocos, na Argélia e na Índia.
Presença feminina
Naná diz estar satisfeito por poder realizar um festival com forte presença feminina. Além das cantoras Gal Costa, Elza Soares e Dona Ivone Lara, também participam do elenco dois jovens grupos femininos de Salvador: o Bolacha Maria (formado por Carlinhos Brown) e o Didá (criado por Neguinho do samba, do Olodum).
Preocupado com o problema da educação musical, Naná fez questão de incluir dois grupos formados por crianças: o carioca Herdeiros da Vila Isabel e o pernambucano Maracatu Nação Erê. "O festival pode ajudar a abrir a cabeça dessa garotada, que é o futuro da música", diz.
O elenco brasileiro se completa com o grupo instrumental mineiro Uakti, que costuma utilizar instrumentos artesanais feitos com tubos de PVC, vidro e outros materiais.
Naná não quer perder a chance de iniciar uma parceria com os mineiros. "Também vou tocar alguma coisa com eles", promete.
Os workshops promovidos pelo festival com os artistas do elenco acontecem pelas manhãs e à tarde, até amanhã, no Castro Alves.

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