São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pareja cria mito do 'bandido-herói

DA REPORTAGEM LOCAL E DA AGÊNCIA FOLHA

Aos 22 anos, Leonardo Rodrigues Pareja tem se mostrado hábil em cultivar uma imagem de "bandido-herói" -o assaltante com cara de menino travesso, nascido em uma família de classe média alta, que estudou inglês na infância e gosta de dizer que a polícia é burra e incompetente.
O aguçado senso de marketing de Pareja é conhecido desde que, em setembro de 1995, ele manteve uma menina como refém por 59 horas, na Bahia.
Ao libertá-la e dar início a uma fuga que durou 39 dias, o assaltante se comunicou inúmeras vezes com a imprensa, ao mesmo tempo em que escapou três vezes de cercos policiais.
Pareja só encerrou a perseguição ao se entregar, por vontade própria, à Justiça de Goiânia, em 12 de outubro, tendo por testemunha uma jornalista de TV.
Pareja não gosta de ser chamado de sequestrador -considera-se "apenas um assaltante".
"Sempre fui um ladrão comum, que roubava pelo sentimento de emoção. Sequestro e estupro nunca passaram pela minha cabeça", disse ele.
Filho de um empresário e fazendeiro, ia ao colégio levado por motorista da família, estudou línguas estrangeiras, teve aulas de piano e praticou natação.
Começou a cometer crimes ainda no início da adolescência, após a falência do pai e a queda no padrão de vida da família.
Sua primeira detenção foi com 12 anos, por baderna na rua. Aos 16, praticou o primeiro assalto com revólver: roubou um carro.
"Nunca ameacei uma barata. Quando assalto, não ofendo ninguém e peço a Deus para a pessoa não reagir, para eu não precisar reagir", disse, ao se entregar.
Pareja foi preso ao assaltar um posto de gasolina, em abril de 92. Tinha então 18 anos. Depois de cinco meses, conseguiu fugir.
Recapturado em novembro daquele ano, foi julgado e condenado a nove anos de prisão. Em dezembro de 94, voltou a fugir.
A morte de seu pai, em 92, foi atribuída por Pareja ao fato de ter sido preso. "Ele ficou sabendo que eu estava sendo torturado (pelos policiais) e não aguentou. Acho que vem daí minha raiva da polícia", disse mais tarde.
As inúmeras fugas, diz, não têm semelhança com um dos filmes que o impressionaram na adolescência -"Alcatraz, Fuga Impossível". "Aquilo é coisa de cinema", disse sobre a aventura.
Ao se entregar, Pareja prometeu escrever um livro sobre o caso. Também prometeu que não fugiria mais -desde que não fosse perseguido dentro da prisão.

Texto Anterior: Presos fazem barricada com botijão de gás
Próximo Texto: Hitler Mussoline faz negociação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.