São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Cetesb x Cetesb

JOSÉ CONRADO DE SOUZA

O texto "Poluição", dos engenheiros Gabriel Murgel Branco, gerente de departamento de tecnologia de emissões de veículos, e Nelson Nefussi, diretor-presidente, publicados na Folha de 15/03/96, pretendendo criticar uma matéria publicada na Folha de 12/03/96 e atribuindo à Petrobrás a tese que os carros a álcool poluem tanto quanto os carros a gasolina é absurdamente antiético.
Embora o jornalista Márcio de Morais tenha feito comentários importantíssimos em resposta, é fundamental municiar os leitores com outras informações.
As avaliações da Cetesb sobre o grau de poluição nas cidades não medem apenas os gases emitidos por automóveis. Medem também os emitidos pelas fábricas, pelos ônibus, caminhões etc.
No entanto, nos últimos dias, os lobistas dos usineiros, aproveitando-se das medições feitas pela Cetesb, difundiram na mídia a informação de que o álcool é um combustível limpo, a ponto de justificar, segundo a ministra Dorothea Werneck, a criação de um imposto ecológico, a ser pago pelos proprietários de carros a gasolina.
Segundo o citado trabalho, de autoria de Gabriel Murgel Branco -representante da Cetesb-, as médias de 380 configurações até março de 1994 permitiram a construção de uma tabela mostrando, claramente, que as quantidades de poluentes emitidas pelos carros movidos a álcool e a gasolina são muito próximas, com exceção dos aldeídos, cuja quantidade emitida pelo carro a álcool é três vezes maior do que a do carro a gasolina (0,042/0,015).
O estudo do representante da Cetesb mostrou também que a gasolina da Petrobrás em um carro importado polui menos do que o carro a álcool.
A quantidade de CO foi 2,65 vezes menor, a de aldeídos foi seis vezes menor etc. Além disso, a cana, em seu plantio, colheita e transporte até às usinas, requer tratores e caminhões queimando diesel.
Há dados indicando que para cada três litros de álcool produzido, um litro de diesel é queimado, transformando-se em poluente. E mais: é preciso computar os gases resultantes das queimadas dos canaviais e a contaminação ecológica causada nos rios e no próprio solo pelo vinhoto, que, em sua grande maioria, sem qualquer tratamento, é descartado pela usinas.
Medir os teores de CO e CO2 emitidos em uma cidade e concluir que, após a implantação do Proálcool, houve redução do grau de poluição, é mais do que um erro primaríssimo. É má-fé.
Não há dúvida que o álcool é um combustível estratégico. Porém, é inaceitável o uso de mentiras para aprovar imposto ecológico privilegiando a produção de álcool, enquanto não há recursos para investir na educação, saúde e segurança.
Finalmente, no momento em que o Congresso Nacional aprovou uma série de propostas de reforma da Constituição Federal com a desculpa de eliminar os subsídios, incentivar a competição, privatizar estatais e, principalmente, reduzir o "custo Brasil", de modo a gerar recursos para investir no social, é inaceitável a manutenção de qualquer projeto à custa da miséria do povo.

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