São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Excluídos correm fora do mundo da F-1

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fórmula 1 é um sofisticado esporte de países ricos, do mundo desenvolvido, que, duas vezes por ano, aporta no Terceiro Mundo.
Em São Paulo, o tecnológico "circo", que acompanha os grandes prêmios pelo mundo, contrasta fortemente com a miséria urbana do subdesenvolvimento.
Cria-se assim um curioso efeito, uma fórmula da exclusão. Está "dentro" quem transita entre os boxes do autódromo e os hotéis de luxo que hospedam as equipes.
Está "fora" quem não está dentro. A vida real é um mundo à parte. Quem pode, paga para ver o espetáculo, mas das arquibancadas.
Aparentemente, o que separa esses dois mundos é um passe, uma credencial, que dá o direito às pessoas de transitar entre um e outro.
Mas há um muro mais rigoroso que o controle de acesso aos boxes.
O show é dominado por ingleses, franceses, italianos, japoneses, alemães. Não há negros na F-1.
Um mecânico ganha cerca de US$ 5.000, fora alojamento e alimentação nas viagens.
Mesmo a rígida separação não impede, porém, que a F-1 estranhe o país. Ela desembarca no Brasil apenas devido a interesses comerciais.
Aparentemente, ninguém no circo tem um afeto especial por São Paulo. Pelo contrário.
A revista oficial da Benetton apresentava a cidade como "líder da lista de cenários para uma versão do 'Inferno' de Dante".
Ressaltando que os relatos de violência e assassinatos são exagerados, a revista afirma, entretanto, que é quase tão fácil encontrar um corpo humano pelas ruas quanto um cachorro morto.
O supra-sumo do Primeiro Mundo não nega que sente o abismo social da incursão ao subdesenvolvimento, que acaba na semana que vem, na Argentina.

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