São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Chrissie Hynde é sensibilidade, esqueça a razão

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ninguém dava mais nada por Chrissie Hynde. Gostar dos Pretenders, banda liderada por ela, tinha até deixado de ser de bom-tom, se é que existe tal coisa na tortuosa etiqueta do mundo do rock.
Mas Chrissie Hynde não se entrega. "Medo de fracasso é coisa de homem", resumiu ela para a revista inglesa de música "Q".
Então, quando escutar Pretenders já significava sujar os dedos de poeira na pré-histórica discoteca de vinil, aparece "Isle of View", CD com versões acústicas das melhores canções da banda.
Paixões autodestrutivas, melancolia, amantes humilhados, mulheres que se viram. Simples canções de amor. Nunca o cerne da música dos Pretenders esteve tão límpido como em "Isle of View".
"Uma bela de uma trepada", foi a resposta de Chrissie à "Q" para a pergunta "descreva-se em cinco palavras". Essa mulher é um incêndio permanente.
Se você tem 16 anos, talvez seja meio difícil entender do que ela tanto fala. Por que o amor tem de ser tão complicado? Por que as pessoas que se gostam estão sempre indo embora, ou distantes? Será que não dá para parar de sentir saudades?
Nessas horas, faça como Beavis. Você já deve ter visto aqueles desenhos em que ele cisma que tudo que aparece no clipe aconteceu de verdade na vida dele.
Num dos mais engraçados, ele vê um vídeo do grupo de hip-hop NWA sobre o bairro de Compton, quebrada risca-faca de Los Angeles.
O Beavis começa a delirar, contando para Butt-Head que morou em Compton, que era terrível chegar à escola no meio da guerra de gangues, saía tiro dentro da classe etc. Tudo mentira, lógico.
E o Butt-Head não perdoa. Diz para Beavis: "Que Compton, nada! Nessa época você estudava na escola aqui do lado. Ia para a aula de lancheira com a sua mãe!"
Não tem jeito. Como apontou a revista do "The New York Times" da semana passada, Butt-Head é "razão" e Beavis, "sensibilidade".
Chrissie Hynde também é "sensibilidade". Pegue emprestadas as memórias dela. Faça de conta que acontece um monte de coisas na vida da gente. Esqueça a razão.

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