São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Ivone Lara rouba a noite em Salvador

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SALVADOR

A sambista carioca Dona Ivone Lara foi a atração mais aplaudida na segunda noite de shows do Percpan (Panorama Mundial de Percussão).
O festival vem sendo realizado no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Com uma bela seleção de sambas, variando entre o partido alto e o pagode, Dona Ivone mostrou que as verdadeiras raízes desse gênero já estão bem distantes do samba plastificado que se ouve atualmente nas rádios.
Arrancando gritos, cada vez que exibia seu rebolado na boca do palco, a veterana sambista fechou o show com "Sonho Meu", senha para a entrada de Gal Costa.
Carisma de Gal
Em uma participação muito curta, mas com o carisma de sempre, Gal cantou uma seleção de sambas-de-roda, incluindo "Remelexo" e "Marinheiro Só". Deixou a platéia pedindo mais.
Acompanhando Gal, o grupo feminino Bolacha Maria também agradou com suas fusões de rap, repente, hip-hop e forró.
É mais uma invenção do explosivo Carlinhos Brown, com boas chances de extrapolar a cena pop baiana.
Granmoun Lélé
Outra esperada atração da noite foi o percussionista Granmoun Lélé, da ilha da Reunião (na costa oriental da África).
Seu grupo hipnotizou a platéia com ritmos e danças frenéticos, que foram proibidos durante séculos pelos colonizadores franceses.
Já o norte-americano Glen Velez, especialista em pandeiros de vários cantos do mundo, não chegou a entusiasmar, com três improvisos um tanto monótonos.
Simpáticos, os garotos do Maracatu Nação Erê (de Pernambuco) acabaram ficando mais tempo no palco do que o necessário. Precisam de mais vivência musical.
Primeira noite
O 3º PercPan foi aberto na quinta-feira à noite, com os Herdeiros de Vila Isabel, jovens ritmistas cariocas dirigidos por Armando Marçal.
Também se apresentaram Elza Soares e o Didá, grupo de garotos que combina percussão, vocais e coreografia africana.
Outra atração foi o trio mineiro Uakti e, em seguida, o senegalês Doudou N'Diaye Rose, acompanhado por 15 percussionistas.
Antes mesmo da última noite do PercPan, que prometia para sábado um encontro de todas as atrações exibidas quinta e sexta, já era possível reconhecer o sucesso desta edição.
Público mais amplo
Naná Vasconcelos e Gilberto Gil acertaram ao abrir mais o leque sonoro da programação, elegendo o tema "Samba da Minha Terra".
Esse recurso estratégico permitiu que um público bem mais amplo, embora atraído pelos vocais de Gal Costa, Dona Ivone Lara e Elza Soares, pudesse também entrar em contato com a arte de grandes percussionistas.
Foi exatamente isso que se viu no Castro Alves: um público respeitoso e sem preconceitos, curioso por culturas diferentes da sua.
O 3º PercPan provou que, neste final de século, os purismos musicais não levam a quase nada. É um festival que tem tudo para continuar. E que já poderia pensar em atingir outras capitais do país.

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