São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Carlinhos Brown co-dirige PercPan de 97

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SALVADOR

O compositor baiano Carlinhos Brown vai dividir a direção artística do Panorama Mundial de Percussão (Percpan) com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, no próximo ano.
A terceira edição do festival terminou anteontem à noite, com mais de cem músicos africanos e brasileiros improvisando juntos no palco no Teatro Castro Alves de Salvador (BA).
Mais do que exibir uma espécie de "melhores momentos" das primeiras noites do evento, Gilberto Gil e Naná Vasconcelos, diretores desta edição, provocaram diversas parcerias inéditas.
Foi o caso da associação do grupo mineiro Uakti com o percussionista norte-americano Glen Velez, um estudioso de pandeiros de vários cantos do mundo. Ou a emocionante parceria dos garotos do Maracatu Nação Erê, de Pernambuco, com o grupo do africano Granmoun Lélé, da ilha de Reunião.
Um momento muito especial da noite se deu no encontro das cantoras Elza Soares, Dona Ivone Lara e Gal Costa, as mais aplaudidas da noite, que foram acompanhadas pela percussão de Marçal e Herdeiros da Vila Isabel.
Outra surpresa do show foi a aparição de Daniela Mercury, vestida à moda do Senegal, que cantou "Oração à Mãe Menininha", ao som dos tambores africanos do grupo de Doudou Rose.
Numa noite que corria o risco de ser excessivamente longa e tumultuada, graças aos mais de 100 músicos programados, Naná e Gil conseguiram estruturar um roteiro criativo e dinâmico, que prendeu a atenção do início ao fim.
Além do alto nível musical da noite, o encontro e as trocas simultâneas dos vários grupos no palco proporcionaram também um belo espetáculo visual.
Segunda noite
A sambista carioca Dona Ivone Lara foi a atração mais aplaudida na segunda noite do Percpan.
Com uma bela seleção de sambas, variando entre o partido alto e o pagode, Dona Ivone mostrou que as verdadeiras raízes do gênero estão distantes do samba plastificado que se ouve nas rádios.
Arrancando gritos cada vez que exibia seu rebolado na boca do palco, a veterana sambista fechou o show com "Sonho Meu", senha para a entrada de Gal Costa.
Em uma participação muito curta, Gal cantou uma seleção de sambas-de-roda, incluindo "Remelexo" e "Marinheiro Só". Deixou a platéia pedindo mais.
Público mais amplo
Naná Vasconcelos e Gilberto Gil acertaram ao abrir mais o leque sonoro da programação do evento, elegendo o tema "Samba da Minha Terra".
Esse recurso permitiu que um público bem mais amplo, mesmo que atraído pelos vocais de Gal Costa, Dona Ivone Lara e Elza Soares, pudesse também conhecer a arte de grandes percussionistas internacionais.
Foi exatamente isso que se viu no Teatro Castro Alves: um público respeitoso e sem preconceitos, curioso para ouvir sons de culturas diferentes da sua.
O 3º PercPan provou que, neste final de século, os purismos musicais não levam a quase nada. É um festival que tem tudo para continuar. E que já poderia pensar em levar pelo menos algumas de suas atrações a outras capitais do país.

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