São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996 |
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Isto é Brasil
VALDO CRUZ Brasília - Em 1986, a Sudepe (Superintendência de Desenvolvimento da Pesca) encomendou dois barcos a um estaleiro de Santa Catarina.Um faria pesquisas sobre os recursos pesqueiros da costa Sul e Sudeste. O outro, da costa Norte do país. Nesse período, o estaleiro foi à falência. O governo federal quebrou, ficou sem recursos. E a construção dos dois barcos foi se arrastando. Em fevereiro deste ano, dez anos depois da encomenda, ficou pronto o primeiro dos barcos. O que foi concebido para navegar na costa Norte, próprio para fazer pesquisas em águas profundas. Aí, não bastasse a longa demora, começou uma disputa política pelo barco construído. Lideranças de Santa Catarina e da região Norte passaram a brigar pela posse da embarcação. Como o barco foi construído em um estaleiro do Estado, os políticos catarinenses simplesmente não queriam deixá-lo zarpar rumo a Belém. Mesmo sabendo que ele tinha características próprias para o Norte do país. Diante do impasse, o Ibama (Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que absorveu as funções da extinta Sudep, foi obrigado a administrar o conflito. O seu presidente, Raul Jungmann, diz que a disputa parecia até uma guerra de secessão e que chegou a ter vontade de dividir o barco em dois. Como era impossível, convocou uma reunião em Brasília. Acabou convencendo os políticos do Sul a literalmente libertarem o barco. Isto depois de ter conseguido a promessa de verbas para a conclusão do outro barco até 97. Aquele projetado para as águas da costa Sul/Sudeste. Este é apenas um dos muitos pepinos herdados por Jungmann. Retrato do Estado brasileiro, lento e dominado pelos interesses políticos. Texto Anterior: Deus joga boliche em Caruaru Próximo Texto: A campanha começou Índice |
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