São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mister Heilborn

DARCY RIBEIRO

Paulo Francis é um gaiato. Ainda jovem e recuperável, pousado na "Última Hora", brincava de brizolista para desgosto de Samuel Wainer. Agora, velho e perdido, deixou de ser nosso.
Nem nosso dos brizolistas, nem nosso dos brasileiros. É um gringo que desde Nova York derrama diabadas e piadas em meio de agressões pessoais. Tudo isso numa linguagem arrogante, ciumenta, cínica e fanhosa. Para quem sabe ler, é muito engraçado.
Às vezes me cita, sempre respeitoso. No último papelucho me arrasa. O faz, como sempre, com sua pontaria zarolha. Atira contra meu anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação aprovado pelo Senado. Começa com mentiras, como a de que o projeto contém 298 páginas, quando tem 27.
Segue com disparates, como o de que se deve acabar com a pós-graduação para dar lugar a simples programas de especialização. Para ele, um curso de especialização sobre a melhor forma de arrancar unha encravada é boa formação para um professor de faculdade de medicina.
Paulo ignora que o melhor da universidade brasileira é a pós-graduação de mestres e doutores. Ela já duplicou a bibliografia de estudos sobre temas brasileiros e está formando dezenas de milhares de professores qualificados.
Só se opõem a ela os donos de escolas superiores privadas, que querem manter seus currais de professores malpagos, dando cursinhos de especialização. Assim se vê que Paulo não é um inocente, suas notícias não são informações nem opiniões, são serviços prestados a grupos de interesses.
Escreveu suas últimas besteiras guiado como um ceguinho pelos palpites do ex-Azevedo. Um milico que foi feito interventor da ditadura na Universidade de Brasília, onde se converteu no mandante mais retrógrado e repressivo das universidades brasileiras. Quase acabou com a universidade que criei.
Paulo adota até a leitura do tal palmatória para o meu romance "O Mulo", escrito para denunciar a fazendeirada brasileira a quem dou voz, para exibir seu racismo e perversidade.
Paulo que até tentou, sem êxito, fazer literatura, devia é aprender a ler, ele mesmo. Escrevendo da metrópole, como voz da corte, que ele adora, boquiaberto, com base nesses informantes, o neogringo Heilborn só diz besteiras. Não se pode ler Paulo nem como humorismo, porque temos uma bela tradição de humoristas brasileiros leais ao povo e à nação.

Texto Anterior: A campanha começou
Próximo Texto: TAXA DE CRESCIMENTO; AIDS; CARNE CRUA; CAUSA E EFEITO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.