São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Sionismo era a busca do refúgio possível

NELSON ASCHER
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Embora nunca tenha deixado de haver judeus no Oriente Médio, a idéia de voltar a ela enquanto comunidade política ou nacional só se tornou pensável, para os judeus europeus, no século 19, era de nacionalismos e formação de nações.
Esse desejo decorria do anti-semitismo e da incapacidade européia de assimilar, como cidadãos plenos, seus judeus.
O projeto nasceu difusamente entre judeus do império russo, mas sua formulação foi feita, há cerca de um século, por um judeu húngaro, assustado com o recrudescimento do racismo a que assistira na França, Theodor Herzl, fundador e organizador do sionismo.
Os primeiros decênios do sionismo têm uma história complexa, mas, mesmo entre os judeus, seu impacto, na época, foi mínimo.
A migração rumo à Palestina -otomana até o fim da 1ª Guerra- dava-se em pequena escala, e seu primeiro triunfo foi um documento assinado por um membro do governo britânico, Lord Balfour, segundo o qual o governo de Sua Majestade apoiava a instalação de um lar nacional para os judeus.
Ainda assim, após a guerra e com a região sob administração britânica, a imigração tendia a diminuir, entre outras razões, devido à resistência dos árabes, mobilizada pela xenofobia de base religiosa e manifestada em motins sangrentos.
O que reavivou o fluxo foi o recrudescimento, em toda a Europa, do anti-semitismo, fenômeno coroado em 1933 com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
Só que, a partir de então, os judeus não migravam mais como colonos e sim como refugiados.
No meio-tempo os lobbies árabes convenceram os ingleses a impedir a entrada dos judeus, algo que, para estes, transformou a Palestina no grande símbolo da impossibilidade de refúgio em qualquer lugar que não fosse seu próprio país.
Terminada a guerra, os judeus do "yishuv" (a comunidade judaica da região) concluíram que era necessário expulsar os britânicos e criar um Estado próprio, necessidade acentuada pela situação de milhares de sobreviventes do Holocausto, que nem queriam permanecer nos países onde suas famílias haviam sido massacradas, nem seriam aceitos em outro lugar.
No entretempo, os ingleses haviam decidido que seus verdadeiros interesses estavam com os árabes detentores do petróleo.
A disputa entre árabes e ingleses, de um lado, e judeus (que recorreram a ações terroristas) foi levada à recém-criada ONU que propôs, em 1947, com apoio dos EUA e da URSS, a partilha da Palestina entre um país judaico e outro árabe e a internacionalização de Jerusalém.
Os judeus aceitaram o plano e continuaram, chefiados por Ben Gurion, a organizar o país, cuja independência viria em maio de 48.
Os árabes rejeitaram o plano em bloco e, no caso dos palestinos -único povo a recusar a aceitar um Estado e um país-, iniciaram uma guerra civil que, no dia da independência israelense, se transformaria numa guerra regional, com o país sendo atacado por todos os vizinhos.
Contra as expectativas e com baixas imensas, os judeus venceram.
Ganharam a guerra, mas não a paz, e o veredicto de 48 teria de ser repetido em 56, 67 e 73, até que o Egito se dispusesse a negociar.
Os palestinos, reféns de suas lideranças e de seus aliados, amargaram quase meio século de derrotas até começar a receber parte do que teriam tido, no início, sem guerra.
As guerras envolveram Israel num halo de genialidade militar que celebrizou os generais Moshe Dayan, Yitzhak Rabin e Ariel Sharon, mas as verdadeiras conquistas no país, mais do que econômicas ou sociais, foram políticas.
Em meio a todas as adversidades, o país consolidou instituições democráticas e um estado de direito que garante, até aos árabes, um grau de liberdade muito superior ao que teriam nos países vizinhos.
Se suas instituições não são perfeitas, elas se saem meritoriamente de qualquer comparação com as de seus inimigos.

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