São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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Uatki traz mineiros e roqueiros dos 80

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 30 instrumentos originais, três cantores mineiros e um guitarrista inglês, o Uakti arma o palco mais movimentado do Heineken Concerts (tocam no dia 12 de abril, no Palace, e no dia 13, no Canecão).
O grupo mineiro -formado por Arthur Andrés Ribeiro, Paulo Sérgio Santos, Décio de Souza e Marco Antonio Guimarães- não vê problemas nessa mistura de Clube da Esquina e rock'n'roll.
"O trabalho centrado nos instrumentos abre a possibilidade de lidarmos com linguagens distintas", diz Ribeiro.
Não acertaram ainda o repertório que vão tocar com o guitarrista Andy Summers, ex-Police. "Devemos acompanhá-lo em algumas músicas. Não vai ser difícil".
Ribeiro lembra a experiência de 1994, quando o Uakti excursionou com o baterista Stewart Copeland, outro ex-integrante do Police.
Dívida
Quem domina a noite, porém, são os mineiros. Na primeira parte do show, tocam inéditas de Lô Borges (de disco a ser lançado neste mês) e instrumentais de Flavio Venturini. Na segunda, recebem Summers e o padrinho Milton Nascimento.
"Ele apareceu para nós na hora certa, no lugar certo", diz Arthur Andrés Ribeiro.
No início dos 80, o Uakti era apenas um grupo experimental dedicado à música contemporânea. Milton convenceu a Ariola a gravar três discos dos rapazes.
Com ele, tocam "Lágrimas do Sul" e "Dança dos Meninos". "Pouca gente sabe que as letras são do Marcos, do Uakti."
Ribeiro aposta no casamento ao vivo da voz de Milton com os instrumentos do grupo. "No disco, as pessoas acham que é sintetizador.
Descaso
O disco "I Ching", lançado aqui no ano passado (nos EUA, saiu em 1992), forma a base do repertório que abre o espetáculo. Músicas como "A Dança do Hexagrama" e "Alnitala" são, porém, pouco conhecidas por aqui.
"A Polygram importou 160 cópias do disco", conta Ribeiro. O grupo grava pelo selo norte-americano Point, de Phillip Glass, distribuído no Brasil pela Polygram.
"Na Europa e Estados Unidos, nossos discos vendem entre 15 e 20 mil cópias. Mas, aqui, as gravadoras só se interessam por quem vende mais de 200 mil. Somos tratados com um descaso absurdo."
No momento, o grupo tenta renegociar a exclusividade da distribuição com a Polygram. Já conseguiram a liberação de "I Ching". Até as 13h de ontem, a Polygram não havia se pronunciado.
Humildade
A fábrica de instrumentos do Uakti não pára. Marcos Antonio, o inventor das marimbas de vidro, flautas de PVC e da trilobita -que combina sopro e percussão- já ultrapassou a marca de 70 criações.
"São os instrumentos que definem o que vai ser traçado musicalmente", diz Ribeiro. "É uma postura humilde diante da música."
Em julho, o grupo faz turnê na Europa para promover o lançamento do próximo disco, "Trilobita". O novo trabalho traz como novidade a inclusão de músicas de outros autores (Milton, Elomar e o compositor grego Kristos Leontis) e a produção de Michael Riesnan, regente do Phillip Glass Ensemble.
Antes disso, tocam em São Paulo ao lado do francês Michel Moglia (as datas não foram confirmadas). Os shows funcionam como pré-abertura do Festival de Artes Cênicas. "Moglia toca tubos de metal com maçarico. É um órgão de fogo. Só espero que não derreta nossos instrumentos."

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