São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Petrobrás perde R$ 400 mi com álcool

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Petrobrás foi ontem a Brasília dizer ao governo que a empresa acumulou nos primeiros três meses deste ano um prejuízo de R$ 400 milhões com a conta álcool.
O reajuste de 10% nos preços dos combustíveis reduzirá em apenas cerca de 30% o prejuízo da estatal com a conta.
Segundo a Folha apurou, Joel Rennó pretendia se reunir com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e dizer também que o déficit total da conta álcool já soma R$ 3,6 bilhões. No começo da noite, o Ministério da Fazenda não confirmava a reunião.
O prejuízo com a conta álcool é representado pela diferença entre o que a estatal paga pelo álcool que compra aos usineiros e o que recebe com a venda desse álcool às distribuidoras de combustíveis, menos o que ela fatura com o sobrepreço da gasolina destinado a subsidiar o álcool.
Crise de caixa
A Petrobrás está enfrentando uma séria crise de caixa e seus dirigentes consideram que o prejuízo com o álcool é sua principal causa.
A Folha apurou que a direção da Petrobrás não queria o reajuste dos preços dos combustíveis. A proposta da estatal era de que o governo tirasse dela a responsabilidade do subsídio ao álcool.
Rennó teria ido dizer a Malan que a situação da conta álcool se tornou insustentável e que a empresa corre o risco de começar a atrasar pagamentos e de abandonar a conta álcool por total falta de condições de mantê-la.
Por causa dos problemas de caixa, a Petrobrás já retardou para o final do ano o pagamento de cerca de R$ 300 milhões em dividendos aos seus acionistas, decorrentes do lucro obtido em 1995.
Dia tenso
O dia de ontem foi tenso na estatal. Pela manhã, chegou a ser noticiado que Rennó iria a Brasília pedir ao governo um aporte de R$ 500 milhões para que a estatal pudesse saldar compromissos, inclusive com pessoal.
A informação não foi confirmada pela empresa.
Também não foram confirmadas pela Petrobrás informações de que a empresa teria precisado recorrer ao mercado financeiro para pagar os salários de março dos seus empregados.
O presidente da empresa iria a Brasília de manhã, mas, segundo informação da Petrobrás, a viagem acabou adiada para o final da tarde, por dificuldades para obtenção de lugar em vôo.
A estatal informou que Rennó acabou tendo que viajar de jatinho, por volta das 16h.
Oficialmente, a viagem teria sido para despachos de rotina.
Bônus
Desde o começo deste ano, a estatal vem tentando obter do Banco Central autorização para captar no mercado de eurodólares US$ 300 milhões por meio do lançamento de bônus (títulos com prazo de vencimento pré-estabelecido).
O dinheiro é parte de um planejamento para captação, via bônus, de US$ 500 milhões este ano, sendo US$ 300 milhões em dólares e US$ 200 milhões em iene, a moeda do Japão.
Este ano vencem cerca de US$ 400 milhões em bônus emitidos no passado pela Petrobrás.
As captações têm, basicamente, o objetivo de rolar esses papéis da empresa.

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