São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Autoridades receberam 'lição', diz Pareja

DOS ENVIADOS A APARECIDA DE GOIÂNIA

O assaltante e sequestrador Leonardo Pareja, 22, afirmou ontem, em entrevista convocada por ele, que o motim no Cepaigo foi uma "lição para as autoridades".
Para ele, a lição foi dada principalmente aos "juízes, desembargadores, promotores e coronéis, que ficaram aqui dentro e sentiram a realidade". Pareja se referia ao fato de que a rebelião teria sido causada, segundo ele, pela morosidade da Justiça, que demoraria em apreciar e conceder direitos dos presos garantidos por lei.
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Pergunta - As negociações foram positivas para vocês?
Pareja - Eu dei ordens de colocar fogo no presídio se houvesse invasão ou não fossem aceitas as reivindicações. Todas as reivindicações foram aceitas.
Pergunta - Então você era o líder da rebelião.
Pareja - Eu e o Amauri fomos os responsáveis pela baixa tensão lá dentro.
Pergunta - Como vai ser a fuga?
Pareja - Eu gostaria de insistir em um apelo para a imprensa. Não persigam, não tentem colocar vidas humanas em risco por uma matéria ou uma foto mais 'angulosa'. Muitos presos não vão perceber que são imprensa. Para eles um carro de padre ou uma ambulância são a mesa coisa. Se eles virem uma bicicleta com motor, vão achar que é um investigador da polícia.
Pergunta - Como está a situação agora?
Pareja - Está tranquila, subindo a adrenalina. A gente vai sair depois das 21h. Eu vou sair junto para dar continuidade à vida de todos. Com a gente, devem sair 40 detentos.
Pergunta - Como vão fazer para caber tanta gente em oito carros?
Pareja - A gente dá um jeitinho. Carro é como coração de mãe nessas horas.
Pergunta - Você participou da organização da rebelião?
Pareja - Não. Para falar a verdade, eu já temia isso, mas existe um código que impera aqui na prisão, de que não pode comentar, senão vira informante da polícia e morre imediatamente. Eu apenas previ, não sabia. Quando ela foi planejada, eu estava de castigo, cumprindo uma pena por uma falsa tentativa de fuga.
Pergunta - Você vai fugir?
Pareja - Não. Vou tentar dar um salvo-conduto para todos e voltar à Justiça o mais imediatamente. Veja bem, eu não vou me entregar, eu estou atendendo um pedido da comissão, do desembargador, para dar um apoio moral e espiritual.
Pergunta - Como foi o tratamento dado aos reféns?
Pareja - Houve um tratamento superótimo. O pessoal que esta lá embaixo são pessoas que erraram, são criminosos que só estão dispostos a ter liberdade e no momento que eu estava lá embaixo não haveria o derramamento de uma gota de sangue.
Pergunta - Você não teme que algo aconteça com você quando você voltar ao Cepaigo?
Pareja - Quando a gente tem Deus nos planos da gente e acredita neles. Eu não tenho medo de nada. Tenho medo de morrer, mas eu preparo a minha morte espiritualmente. Não é feitiçaria, mas simplesmente os conceitos da "Bíblia". A gente não morre, simplesmente passa para uma vida melhor.
Pergunta - Você acha que essa rebelião serviu para alguma coisa. Ela cumpriu o objetivo dela?
Pareja - Olha, cumpriu. Primeiro alertou as autoridades para o que está ocorrendo aqui dentro, quanto ao desmando de leis que se acumulam no Fórum. Pessoas que estão cumprindo pena de regime semi-aberto por roubo de galinha e são tratadas como assassinos. Pessoas que já merecem os benefícios da lei e não recebem.
Pergunta - Foi uma lição para quem?
Pareja - Foi uma lição para as autoridades, principalmente para os juízes, desembargadores, promotores, coronéis, que ficaram aqui dentro e sentiram a realidade.
Pergunta - O motim acaba hoje?
Pareja - Se Deus quiser...
Pergunta - O que falta para Deus querer?
Pareja - Uma definição do esquema de saída, que será definido após as 20h. Eu vou colocar um horário em pauta e o pessoal discute. Se for aprovado, a gente sai.
Pergunta - Como vai ser a fuga?
Pareja - Eu saio com um refém e com um pessoal que eu vou deixar em lugar seguro.
Pergunta - E como você vai fazer para voltar?
Pareja - Farei uma surpresa.

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