São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Camelôs ameaçam depredar o prédio da Regional da Sé

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Os camelôs que protestaram ontem contra a ação da prefeitura no centro velho de São Paulo ameaçaram depredar o prédio da Administração Regional da Sé se suas reivindicações não forem atendidas.
Cerca de 500 manifestantes, segundo a PM, participaram do protesto em frente à prefeitura, no parque Dom Pedro (centro).
A ameaça foi feita após duas horas de espera no parque e de uma reunião com o secretário Arthur Alves Pinto, das Administrações Regionais.
No início do protesto, os manifestantes queriam ser recebidos pelo prefeito, Paulo Maluf, que não apareceu. Segundo a sua assessoria de imprensa, Maluf nunca recebe manifestantes na prefeitura.
O secretário disse ontem aos camelôs que vai levar as reivindicações ao prefeito, mas que só hoje haverá uma resposta.
"Ninguém vai nos enrolar. Se não nos derem uma solução, vamos quebrar toda a Administração Regional da Sé", disse Adir Ribeiro do Amaral, presidente Sinpesp (sindicato dos ambulantes), do carro de som.
Amaral foi aplaudido pelos manifestantes. Eles queriam fechar o trânsito, como já haviam feito no início do protesto, mas foram contidos por membros do sindicato.
Um deles foi José de Alencar, 39, o "Pescoço", que chorou na frente do carro de som. "Quero quebrar tudo agora", gritava enquanto subia nas grades do parque Dom Pedro.
Ele é camelô na rua 15 de Novembro, onde vende gravatas e meias. "Estou desesperado, preciso comer. Há uma semana que não faturo nada."
Os camelôs marcaram uma concentração para hoje na Administração Regional da Sé.
Impasse
Na madrugada de quinta-feira passada, as barracas dos camelôs foram todas retiradas do chamado centro velho da cidade em uma blitz da prefeitura, provocando tumulto.
O atual impasse entre os camelôs e a prefeitura começou na segunda-feira, quando foram definidas 17 licenças para instalação de pontos na rua 15 de Novembro. O sindicato reivindica 31 autorizações.
Os 17 pontos foram distribuídos apenas de um lado da rua, com uma distância de dez metros entre as barracas. Uma licença especial foi concedida a uma deficiente visual.
O secretário afirmou antes da reunião que, se os camelôs não aceitassem os 17 pontos, não teriam nenhuma autorização.
Segundo ele, a blitz da semana passada "foi apenas a primeira de uma série".
Alves Pinto disse que as 9.800 autorizações para camelôs existentes estão suspensas até que a prefeitura faça a reorganização.
A estimativa da secretaria é que existam cerca de 50 mil ambulantes em atividade em São Paulo.

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