São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Ministros favorecem mais seus Estados de origem

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento obtido pela Folha mostra o volume de investimentos do governo federal feito em 1995

Ministros favorecem mais seus Estados
Ao menos dois ministros privilegiaram seus Estados na distribuição dos investimentos de suas pastas no ano passado: Odacir Klein (PMDB-RS), dos Transportes, e Gustavo Krause (PFL-PE), do Meio Ambiente.
Representantes de ambos os ministérios negam ter havido favorecimento. Dizem que os critérios usados na distribuição dos recursos foram técnicos.
Para chegar a esse resultado, a Folha calculou os investimentos de cada ministério nas 27 unidades da federação. Baseou-se em dados oficiais: o demonstrativo dos gastos do governo enviado pela Secretaria do Tesouro ao Congresso.
O Rio Grande do Sul, terra do ministro Odacir Klein, foi o Estado que mais recebeu investimentos em transportes em 95. Foram R$ 101,5 milhões, ou 12,5% do dinheiro investido pela pasta dos Transportes em programas estaduais.
Os projetos do ministério representaram 70% das verbas investidas pelo governo federal no Estado em 95. O dinheiro foi usado em ampliação e conservação de estradas, transporte ferroviário urbano de passageiros e obras em portos.
Meio Ambiente
Pernambuco, base eleitoral do ministro Gustavo Krause, foi o segundo colocado no ranking de investimentos do Ministério do Meio Ambiente, com R$ 70,2 milhões. Só perdeu para a Bahia -cujo governador é do PFL-, que recebeu R$ 109,4 milhões.
Com R$ 48,8 milhões de investimentos recebidos, Minas Gerais ficou em terceiro lugar. O secretário de Irrigação do ministério, Paulo Romano, é do PFL mineiro.
Somados, os três Estados receberam 43% dos investimentos em programas estaduais da pasta de Gustavo Krause. Quase tudo foi gasto em projetos de irrigação. Os programas de meio ambiente não chegam a 10% do total de investimentos do ministério.
O titular do Ministério do Meio Ambiente refuta a hipótese de favorecimento político: "São projetos para minimizar a seca, criar empregos e diminuir as diferenças regionais. Governar é isso. Se não fosse assim é que estaria errado".
A assessoria de Krause diz que os critérios de investimento foram definidos pelos governadores do Nordeste e pelos deputados, seguindo decisão de uma reunião da Sudene. Foram priorizadas obras que estavam em fase de conclusão.
Segundo a assessoria, os contratos são de longo prazo e foram assinados por governos passados.
A concentração de obras na Bahia, Pernambuco e Minas se explica, segundo o ministério, pelo fato de serem da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco. O rio corta os três Estados.
Transportes
A Folha procurou o ministro Odacir Klein na quarta-feira, em Brasília. Foi informada que ele estava em viagem ao exterior e só voltaria na segunda-feira.
Também gaúcho, o secretário-executivo Alcides Saldanha, responsável pela pasta na ausência do ministro, negou que o Rio Grande do Sul tenha sido mais beneficiado: "Alguém pegou dados que não correspondem à realidade".
Ele listou as obras do ministério do Estado: conserto de estradas, prolongamento da linha do trem metropolitano de Sapucaia do Sul a São Leopoldo, recuperação do porto de Rio Grande e a rodovia de Santa Maria a Rosário do Sul.
Porém, disse não se lembrar "de cabeça" do valor das obras.
A listagem corresponde às rubricas encontradas pela Folha no demonstrativo enviado pelo Tesouro ao Congresso. Os dados são um tipo de prestação de contas do governo ao Legislativo.
Outros três ministérios que tiveram seus investimentos analisados pela Folha mostraram uma distribuição mais pulverizada dos recursos pelos Estados.
A Bahia lidera os investimentos do Ministério do Planejamento, Minas é o mais favorecido por verbas do Ministério da Educação e o Rio foi o Estado onde o Ministério da Saúde mais investiu.

Colaborou a Agência Folha

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