São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Maus humores

JUCA KFOURI

O futebol brasileiro vive um momento luminoso. O grande mérito da conquista do tetra foi ter aliviado a carga nos ombros de outra geração de craques que podia ficar na história como perdedora.
Livres de qualquer complexo, nossos jogadores desfilam seu talento pelos campos do mundo e dão espetáculos cada vez melhores pelo país afora.
Os gols voltaram em profusão, e só há motivos para otimismo, seja em relação ao futuro próximo -o ouro em Atlanta, por exemplo- ou ao distante -o penta na França, por que não?
E, assim mesmo -mestre Armando Nogueira chama a minha atenção-, as colunas especializadas dos jornais exalam mau humor, a dele incluída, esta especialmente.
E por quê? Porque o Flamengo é obrigado a jogar em Itaperuna com Romário e companhia. Porque o Corinthians é obrigado a jogar na quarta-feira no Rio, na sexta em Sorocaba, no domingo de Páscoa em São Paulo, na terça que vem em Belém, na quinta em Araçatuba e no domingo em São Paulo novamente. Em regra, em gramados lastimáveis e levando pancada de atletas menos dotados.
Os erros de arbitragem nem fazem parte do mau humor. ãrbitros erram no mundo inteiro em igual escala.
Mas o equilibrado Fernando Calazans, de "O Globo", não aguenta mais mostrar a inutilidade do Campeonato do Rio.
Ruy Osterman clama no deserto, no "Zero Hora", porque a dupla Gre-Nal não pode sobreviver jogando em Santana do Livramento.
Só mesmo o meu amigo Roberto Benevides, de "O Estado de S. Paulo", anda mais paciente, talvez resignado e cansado de dar murro em ponta de faca, talvez descrente e convencido de que é melhor brigar menos para ter acesso às chamadas fontes oficiais.
Todos, no entanto, têm dado menos espaço às jogadas maravilhosas de nossos ídolos e se preocupado mais em descobrir os caminhos para que eles possam continuar por aqui.
As receitas variam, mas ninguém discorda que, se os dirigentes de nosso futebol fossem profissionais, o mau humor dos jornalistas seria menor.
Jornalistas, aliás, envenena o senador ACM, são de dois tipos. Os que se vendem por dinheiro e os que se compram com informação. ACM certamente conhece os de terceiro tipo, incompráveis. Porque eles existem. E até são capazes de ser bem-humorados, desde que haja motivos.
Certamente viveremos até que esse dia chegue.

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