São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996
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'Viúva' de suposto traficante é morta

DA SUCURSAL DO RIO

A estudante Márcia Frigues Vieira, 18, e sua mãe, Terezinha Maria Frigues de Lacerda, 43, foram encontradas mortas terça-feira, em um matagal no quilômetro 178 da via Dutra, altura de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense).
Márcia era "viúva" de Jorge Luís dos Santos, acusado pela polícia carioca de ser líder do tráfico na favela de Acari (zona norte).
Jorginho do Acari, como era chamado, foi encontrado morto em uma cela de uma delegacia carioca, um dia após ter sido preso na Bahia (leia texto).
Os dois corpos só foram identificados ontem pelo pai de Márcia, Sebastião Vieira.
Policiais da 52ª DP (Centro de Nova Iguaçu), onde o caso foi registrado, não sabiam sequer a quem pertenciam.
Segundo o boletim do Instituto Médico Legal, a estudante teve hemorragia intra-craniana e Terezinha teve hemorragias intra-craniana e interna.
Extorsão
Jovem e bonita, Márcia Frigues Vieira teve um filho de seu relacionamento de seis anos com Santos. Hoje o menino tem três anos.
Ela ficou conhecida após a morte do namorado. Ainda no enterro de Santos, Márcia denunciou que ele já havia sido preso por policiais e extorquido três vezes para ser solto. A jovem disse que chegou a ser detida uma vez e liberada, depois que o namorado pagou aos policiais.
Na época da morte, ela contou que sabia das atividades de Santos e que a casa onde morava, no interior da favela, havia sido um presente dele, que também pagava os seus estudos, incluindo um curso de informática.
As duas foram assassinadas a tiros, segunda-feira à noite. Márcia foi baleada na cabeça e sua mãe no peito e na cabeça.
Medo
Em Acari, moradores que não quiseram se identificar, dizem que Márcia foi morta por vingança. Os traficantes suspeitavam que ela teria contado aos policiais que Santos estava escondido em Salvador.
Muito abalado e assustado, o pai de Márcia não quis falar sobre o crime, nem sobre o namoro da filha com Jorginho do Acari.
"Não sei de nada. Fui pego de surpresa. Estávamos procurando por elas desde terça-feira. Há muito tempo não falava com ela", disse Sebastião Vieira.
Com medo de represálias, familiares e amigos de Márcia e Terezinha preferiram manter silêncio durante o sepultamento. Um dos parentes, que não quis se identificar, disse que "todos já esperavam esse final."
Márcia foi enterrada em um caixão simples, em um cova rasa e teve apenas duas coroas de flores. As despesas foram pagas pelo seu pai.

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