São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996
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Pareja diz que não é ídolo e pede que jovens não o imitem

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

O assaltante e sequestrador Leonardo Pareja, 22, disse ontem que, se quisesse, estaria na Europa.
Ele disse que quatro outros fugitivos que estavam com ele fugiram de avião. Pareja rejeitou ser chamado de ídolo e pediu que adolescentes não o imitassem.
Ele foi preso em Porangatu (413 km de Goiânia) sete horas após a fuga do Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás), no início da noite de quarta-feira.
Líder dos rebelados, Pareja disse que a rebelião, que durou 151 horas, pode se repetir em qualquer outro presídio se o sistema penitenciário não for mudado. Pareja falou ontem durante 40 minutos, na sua primeira entrevista depois de preso. A seguir, os principais trechos:
*
Pergunta - Você foi preso ou se rendeu?
Leonardo Pareja - Eu me rendi, de forma alguma fui preso.
Pergunta - Você queria fugir?
Pareja - Não. Eu tive que intervir para ter uma solução mais adequada. Jamais vou fugir.
Pergunta - Se você fugisse, para onde iria?
Pareja - Se quisesse fugir tinha entrado num avião para fora do país, como meus amigos foram.
Pergunta - Muitos fugitivos foram pegos. O que deu errado?
Pareja - Faltou inteligência. Eu falei que a arma mais forte que eles tinham seriam o dinheiro e a inteligência, não armas pesadas.
Pergunta - Faltou inteligência para você também?
Pareja - Faltou. Eu podia ter desviado da barreira e eu cometi essa imprudência de tentar passar. Pergunta - Teve medo?
Pareja - Quando passei pela barreira, sim, porque eles atiraram só de fuzil.
Pergunta - Você tem medo de voltar ao Cepaigo e ser morto pelos outros presos?
Pareja - Eu temo sim. O que o cara que fugiu e que está preso de novo vai querer fazer comigo?
Pergunta - Valeu a pena?
Pareja - Valeu para mostrar que é preciso mudar. Pode haver outra rebelião em qualquer parte do Brasil. Aquela classe carcerária é oprimida. Eles não podem ser tratados como 'rejeitos radiativos', como fizeram com o Césio-137 aqui em Goiânia.
Pergunta - Se você não fosse um fora-da-lei, o que seria hoje?
Pareja - (risos) Um analista de sistemas, era isso que estava fazendo até 92, quando fui preso.
Pergunta - Você já pensou em ser político?
Pareja - (risos) Não iam permitir, não. Eu tenho dentro de mim uma coisa de falar sempre a verdade na cara. Nesse poder, é sempre um rasga-rasga de seda... Não suporto esse tipo de coisa.
Pergunta - Você foi aplaudido nas ruas. Você é um ídolo?
Pareja - Não se pode ser ídolo dessa forma. Eu me identifico com os adolescentes da classe média baixa, que têm sonhos e ilusões. Mas que eles não façam o que eu fiz. O crime não compensa. Pare já! (diz rindo, fazendo trocadilho com o próprio nome).

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