São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996 |
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Pareja diz que não é ídolo e pede que jovens não o imitem
WILLIAM FRANÇA
Ele disse que quatro outros fugitivos que estavam com ele fugiram de avião. Pareja rejeitou ser chamado de ídolo e pediu que adolescentes não o imitassem. Ele foi preso em Porangatu (413 km de Goiânia) sete horas após a fuga do Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás), no início da noite de quarta-feira. Líder dos rebelados, Pareja disse que a rebelião, que durou 151 horas, pode se repetir em qualquer outro presídio se o sistema penitenciário não for mudado. Pareja falou ontem durante 40 minutos, na sua primeira entrevista depois de preso. A seguir, os principais trechos: * Pergunta - Você foi preso ou se rendeu? Leonardo Pareja - Eu me rendi, de forma alguma fui preso. Pergunta - Você queria fugir? Pareja - Não. Eu tive que intervir para ter uma solução mais adequada. Jamais vou fugir. Pergunta - Se você fugisse, para onde iria? Pareja - Se quisesse fugir tinha entrado num avião para fora do país, como meus amigos foram. Pergunta - Muitos fugitivos foram pegos. O que deu errado? Pareja - Faltou inteligência. Eu falei que a arma mais forte que eles tinham seriam o dinheiro e a inteligência, não armas pesadas. Pergunta - Faltou inteligência para você também? Pareja - Faltou. Eu podia ter desviado da barreira e eu cometi essa imprudência de tentar passar. Pergunta - Teve medo? Pareja - Quando passei pela barreira, sim, porque eles atiraram só de fuzil. Pergunta - Você tem medo de voltar ao Cepaigo e ser morto pelos outros presos? Pareja - Eu temo sim. O que o cara que fugiu e que está preso de novo vai querer fazer comigo? Pergunta - Valeu a pena? Pareja - Valeu para mostrar que é preciso mudar. Pode haver outra rebelião em qualquer parte do Brasil. Aquela classe carcerária é oprimida. Eles não podem ser tratados como 'rejeitos radiativos', como fizeram com o Césio-137 aqui em Goiânia. Pergunta - Se você não fosse um fora-da-lei, o que seria hoje? Pareja - (risos) Um analista de sistemas, era isso que estava fazendo até 92, quando fui preso. Pergunta - Você já pensou em ser político? Pareja - (risos) Não iam permitir, não. Eu tenho dentro de mim uma coisa de falar sempre a verdade na cara. Nesse poder, é sempre um rasga-rasga de seda... Não suporto esse tipo de coisa. Pergunta - Você foi aplaudido nas ruas. Você é um ídolo? Pareja - Não se pode ser ídolo dessa forma. Eu me identifico com os adolescentes da classe média baixa, que têm sonhos e ilusões. Mas que eles não façam o que eu fiz. O crime não compensa. Pare já! (diz rindo, fazendo trocadilho com o próprio nome). Texto Anterior: País é 'refúgio' ideal para criminosos Próximo Texto: Número de presos é dúvidoso Índice |
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