São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996
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"Dona Flor" volta em 96 com mais cenas de sexo

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

O triângulo amoroso mais famoso da ficção brasileira voltará à cena este ano.
O pilantra Vadinho, o metódico Teodoro e a meiga e fogosa Flor -os três vértices da crônica de amor criada por Jorge Amado e levada às telas por Bruno Barreto- voltam aos cinemas no segundo semestre, em comemoração dos 20 anos de filmagem de "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
Como atrativo principal do filme, realizado em 1976 e lançado no ano seguinte, haverá o acréscimo, às cerca de 40 cópias novas que serão distribuídas, de cenas proibidas pela censura do governo militar (em 1976 o presidente era o general Ernesto Geisel).
As cenas somam cerca de cinco minutos, segundo Luiz Carlos Barreto (pai de Bruno, que hoje filma "O Que É Isso, Companheiro", e também de Fábio, diretor de "O Quatrilho") e foram retiradas porque seu forte conteúdo sexual incomodou demais os censores.
As cenas cortadas foram duas: aquela em que o personagem Vadinho (José Wilker) bolina e se esfrega no traseiro de uma das alunas da escola de culinária de sua mulher, Flor (Sonia Braga) e a que Vadinho e Flor fazem sexo anal.
Ambas as situações aparecem rapidamente no filme, mas tiveram planos retirados, permanecendo apenas os closes.
Sobre a cena com a aluna da escola de culinária "Sabor e Arte" (Flor ensinava a receita de moqueca de siri mole), o certificado de censura, obrigatório naquele tempo, trazia a seguinte "recomendação" do censor: "Cortar a tomada em que Vadinho realiza movimentos eróticos no traseiro de uma jovem".
"Na cena de sexo entre Vadinho e Flor deveremos incluir os planos médios e geral, mostrando ambos de corpo inteiro", diz Barreto.
Um outro trecho do filme deverá ser "atualizado". Trata-se daquele em que Vadinho aparece nu sobre o armário do quarto de Flor e que teve de ser "escurecido" no laboratório por ordem da censura. Agora, voltará à luminosidade original.
Houve também uma fala de Vadinho que teve de ser cortada e que provavelmente voltará ao filme. É o momento em que ele se refere a uma prostituta do bordel do filme, que atendia pelo apelido de "Sublime Cu". O último vocábulo acabou vetado pela censura.
Campeão de bilheteria
"Dona Flor e Seus Dois Maridos" é o filme brasileiro de maior público de toda a história.
Terceiro longa-metragem realizado por Bruno Barreto, então com 21 anos, destacou-se rapidamente no surto de filmes nacionais de qualidade que surgiu nos anos 70 (entre eles, "Toda Nudez Será Castigada", de Arnaldo Jabor, e "Xica da Silva", de Cacá Diegues).
Seu lançamento no começo de 1977 ocorreu como um acontecimento de marketing, já que suas cópias foram distribuídas para cerca de 50 cinemas espalhados pelo Brasil, de uma só vez, fato desconhecido para produções nacionais.
Nestas duas décadas, voltou ao cartaz várias vezes, foi exibido e reprisado pelas emissoras de TV e também lançado em vídeo (cujas cópias, remasterizadas, serão relançadas este ano).
Luiz Carlos Barreto calcula que "Dona Flor" atingiu cerca de 12 milhões de espectadores brasileiros, até hoje.
Isto em cinema, porque o filme foi lançado em vídeo, com uma tiragem "pequena", segundo Barreto, de 10 mil cópias, e atingiu um número incalculável de espectadores-sócios de videolocadoras.
A carreira de "Dona Flor" no exterior também é exemplar.
Bateu recordes de bilheterias em diversos países da América Latina, principalmente na Argentina, onde estreou em 1978, aliás com 12 cortes impostos pela censura local.
Até mesmo nos Estados Unidos recebeu tratamento inédito para produções do gênero. Foi projetado para críticos e distribuidores na sala específica para este fim mantida pela Metro Goldwyn-Mayer e teve uma concorrida estréia em Nova York, com direito a festa na Boate 54, o "point" mais badalado do final dos anos 70.

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