São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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O plano de estabilização e o setor de serviços

JOSMAR VERILLO

O Plano Real é, até o momento, o plano de estabilização monetária mais bem-sucedido no Brasil.
Ele apresenta, no entanto, uma série de desafios que não eram enfrentados nos períodos de inflação elevada. As prioridades estavam mais ligadas nos ganhos e perdas monetárias do que na atividade real e seus custos.
Esses desafios têm de ser superados, pois a estabilização interessa à grande maioria da população brasileira. Nenhum país conseguiu acabar com a inflação sem sacrifícios.
A abertura de mercado iniciada no governo Collor e continuada no governo FHC aumentou a concorrência entre as empresas. Além da concorrência aumentada, a política cambial, empregada no Plano Real como suporte da estabilização, aumentou significativamente os custos da atividade econômica no Brasil.
Com pressão vinda pelo lado dos custos e pelo lado dos preços, as empresas estão sendo obrigadas a exercitar a criatividade ao extremo para garantir a sobrevivência.
A consequência do descompasso cambial é que o produto importado fica muito mais barato e coloca pressão nos produtores locais para redução de custos. Para os exportadores, o produto fica muito caro e perde competitividade no exterior. O caminho é o mesmo: ou reduz custo ou acaba tendo que abandonar a atividade.
O ideal do plano de estabilização é que todos os preços parem de subir num dado momento, passando a existir apenas o movimento normal de preços de qualquer economia, para refletir a escassez relativa de cada produto.
Infelizmente, isso é muito pouco provável. Os agentes econômicos têm percepções diferentes sobre o plano e a situação de mercado. Na medida em que podem, pressionam para ficar com uma fatia maior do bolo, o que é uma atitude econômica legítima, mas em um momento inapropriado.
Durante um plano de estabilização, a atitude de tentar aumentar a fatia do bolo deve ser evitada, pois isso pode mandar sinais errados para os agentes econômicos.
O que seria um movimento econômico legítimo pode ser interpretado como um movimento generalizado de aumento de preços. Se todos os agentes econômicos tiverem a mesma atitude de tentar aumentar a fatia do bolo, a inflação volta.
A estabilização nos obriga a ficar mais afiados. Os centavos contam. Pequenas diferenças nos índices inflacionários causam grandes distorções nos preços. As empresas têm de ficar mais atentas às suas negociações. Os salários não podem aumentar em descompasso com o momento econômico. É preciso apagar da memória a indexação.
É uma obrigação de todo cidadão brasileiro evitar a reindexação. As empresas, como as entidades mais organizadas da economia, devem atentar para a desindexação dos contratos, principalmente os de serviços.
Algumas empresas têm entabulado negociações criativas com os empregados. A participação nos resultados tem se tornado realidade, o que permite ganho melhor nos períodos bons e evita demissões nos períodos ruins.
Os contratos de serviços têm sofrido reajustes acima dos da indústria. Isso reflete um certo descuido dos negociadores das empresas de serviço, ou a esperança de que os aumentos sejam repassados aos tomadores de serviços.
Essa situação, se perdurar, pode provocar a substituição das empresas, ou então dos serviços, com possíveis refluxos nos processos de terceirização.
Os tomadores de serviços devem evitar os contratos indexados pelo índice de reajuste de salários das categorias. Sem essa pressão do mercado, prevalece a atitude cômoda de conceder reajustes irreais e repassá-los aos clientes.

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